
Biodiversidade e o bonsai.
Hoje em dia falamos muito em biodiversidade.
De facto, os primeiros organismos vivos conhecidos já existem há vários milhares de milhões de anos.
Este é o resultado da lenta evolução do mundo vivo no nosso planeta e dependemos dela para viver no dia-a-dia.
Porque é que temos que dar tanta importância à biodiversidade?
Porque é essencial para o desenvolvimento natural dos ecossistemas do nosso planeta. É fundamental e quanto maior for a biodiversidade, maior será a taxa de estabilidade e adaptabilidade da biosfera às condições atuais e respetivas alterações no nosso meio ambiente.
Para se ter uma ideia do grau de biodiversidade correspondente a um determinado lugar, basta contar o número de espécies representadas nesse lugar e quanto maior o número, maior é o grau de biodiversidade.
NOTA:
- O que tipicamente e infelizmente não acontece por exemplo em Portugal, nas nossas florestas de eucaliptos e outros tipos de monocultura.
A riqueza das espécies é sinónimo de biodiversidade.
A biodiversidade biológica refere-se à multiplicidade de espécies na terra e aos seus ecossistemas, assim como aos processos ecológicos em que estão inseridas. A biodiversidade encontra-se em quase toda a parte da terra e a maior parte das pessoas não estão muito consciente dela, uma vez que a generalidade dos organismos vivos é minúscula, mesmo invisíveis a olho nu e muitas vezes apenas durante um curto período de tempo. É o caso das bactérias, fungos, arqueias que são semelhantes às bactérias, mas pertencentes a um domínio diferente, também são microscópicas e abundantes. Protistas que incluem protozoários, ou seja, organismos que apresentam apenas uma célula e muitas algas unicelulares.
Há três níveis de organização que se refere a todos os componentes do mundo vivo:
1- Os ecossistemas, ou seja, o ecossistema é um ambiente natural que funciona na natureza com todos os seres vivos, plantas e minerais cuja vida depende dele. É um meio único e autoequilibrado, mas facilmente fragmentado e fragilizado por ações externas.
2- As espécies, como já explicamos num artigo anterior, em botânica a espécie é a segunda palavra da nomenclatura e deve ser escrita em minúsculas e em latim. Ela distingue os indivíduos de um mesmo grupo. As plantas do mesmo grupo podem reproduzir-se umas com as outras, mas geralmente não se podem reproduzir com membros de outras espécies. As características genéticas únicas desta espécie são reproduzidas de geração em geração através das suas sementes.
Ler artigo original sobre a botânica e o bonsai.
3- Os genes. O gene é uma ínfima parte de um cromossoma correspondente a uma informação precisa e particular, distinta dos outros genes.
Porque é que a biodiversidade é tão importante?
Durante várias décadas, o principal objetivo do mundo industrializado tem sido o rendimento, a sobre-exploração e a utilização das chamadas culturas intensivas e especializadas, temos o exemplo do eucalipto, do pinheiro, o óleo de palma, o abacate, o que levou à deterioração da boa conservação, prejudicando o solo através da utilização excessiva de fertilizantes e produtos químicos como herbicidas e inseticidas e com recurso a grandes quantidades de água reduzindo o volume e a qualidade das napas freáticas. A falta de água em certas regiões do globo já se faz sentir e ameaça milhares de vidas humanas, poupar a água é um dever de cada um de nós e com simples gestos quotidianos podemos poupar uma grande quantidade todos os anos.
O mesmo se aplica aos animais e insetos, que são eliminados do seu ambiente natural. A pesca e a caça excessivas que podem pôr em causa a sobrevivência de algumas espécies e até pode mesmo provocar o colapso e o desequilíbrio da cadeia alimentar. A agricultura industrial com o uso de produtos tóxicos em grandes quantidades eliminando a maioria dos insetos benéficos, temos que constatar que encontramos cada vez menos abelhas selvagens nos nossos habitats, o que é sinal que algo está mal no nosso modo de vida, a abelha é o motor da alimentação, sem ela não há polinização e assim sendo não há colheitas em quantidades suficientes para alimentar a população. A indústria fitofarmacêutica já está consciente e está a fornecer produtos mais suaves em relação às abelhas e a utilização e respetiva aplicação dos mesmos está mais regularizada hoje em dia. Muitos dos produtos muito mais agressivos foram eliminados do mercado e substituídos por outros menos nocivos em relação à flora e à fauna em geral.
A urbanização em grande escala, a construção de estradas e autoestradas e o desenvolvimento de infraestruturas de transporte estão a causar a destruição e a degradação dos ambientes naturais. Sabemos que há rotas migratórias de alguns animais que são completamente cortadas pelas autoestradas e a construção de grandes centros urbanos com prédios muito altos e revestidos com vidro que reflete a luz solar e induz em erro as aves migratórias. O homem está a impor-se em demasia sobre a natureza provocando desequilíbrios profundos e arrastando a nossa civilização para um declínio lento e que acontecerá obrigatoriamente se não conseguimos contrariar a realidade em tempo útil.
A sobre-exploração dos recursos e as alterações climáticas são a consequência do crescimento da população mundial. Quanto maior for a população na terra, menos vida selvagem teremos porque estamos a ocupar o lugar dos animais e das plantas e árvores autóctones.
A desflorestação das florestas tropicais e amazónicas, que são extramamente ricas em espécies vegetais e animais, está infelizmente a destruir o seu ambiente natural de vida.
O mesmo se aplica à poluição do ar, do solo e da água, três elementos que são vitais para a nossa saúde e que estão cada vez mais degradados.
A poluição é tudo o que altera o nosso ambiente e consequentemente, a nossa saúde. Falamos de poluição quando se trata de elementos poluentes que podem provocar efeitos negativos na saúde das pessoas. É o caso dos fumos das grandes fábricas, dos tubos de escapes dos automóveis, a contaminação dos nossos rios e oceanos com lixos industriais. Quantas vezes ouvimos falar em descargas poluentes nos rios e até no mar, nem sempre são empresas pequenas, pelo contrário há empresas de grandes dimensões que aproveitam lacunas na lei e a inatividade das autoridades para, durante a noite ou aos fins de semana, lançarem para as águas dos nossos rios resíduos impróprios para a fauna e a flora aquática.
Como resultado plausível, somos obrigados a notar que é o impacto da atividade humana que pertuba o equilíbrio da biodiversidade.
Os seres humanos degradam este equilíbrio através da caça e da pesca excessivas, da introdução de espécies invasoras, cujo o jacinto de água é um exemplo notório, da produção intensiva sem qualquer respeito pelo ambiente natural.
Temos alguns exemplos em Portugal, tais como a exploração do eucalipto para a indústria da pasta de papel, que tem sido sobre explorada durante décadas. O eucalipto não é uma espécie local, mas os produtores cultivam-no por razões puramente económicas, uma vez que cresce muito rapidamente e torna o investimento rentável, temos que reconhecer que é o sustento de inúmeras famílias no centro do país.
Por outro lado, as florestas de eucalipto são terras degradadas e favoráveis aos incêndios, uma vez que esta árvore é particularmente inflamável. A seguir a um incêndio, muitas vezes temos períodos de chuvas intensas que continuam de provocar prejuízos nas zonas onde houve incêndios, provocando derrocadas e sobretudo erosão dos solos por já não haver nada para reter a terra.
Recordemos uma vez mais Pedrogão Grande em 2017, entre 17 e 24 de junho, no distrito de Leiria, o maior incêndio florestal em portugal, cobrindo uma área de mais de cinquenta mil hectares.
Trinta das vítimas mortais foram encontradas queimadas nos seus próprios carros enquanto tentavam fugir.
A maior parte da floresta, mais de noventa por cento, era ocupada por eucalipto, cujo o óleo é altamente inflamável. O resto foi ocupado pelo pinheiro pinaster. Outro problema e fonte de incêndio são as agulhas que caem no chão, assim como em cima dos arbustos nas proximidades do pinheiro, facilitando a propagação do fogo até ao topo das árvores.
As altas temperaturas tornam difícil o combate às chamas. Este tipo de fogo destrói as camadas superficiais da terra, queimando matéria orgânica e promovendo o processo de erosão do solo.
NOTA:
- Para quem não sabe, os incêndios prolongam-se muitas vezes porque o calor durante a passagem do incêndio é tão intenso que aquece as pedras e as cepas das árvores de tal modo que mesmo passado horas e até dias, os reacendimentos acontecem, o calor emanente consegue inflamar o pouco de vegetação restante à volta, provocando os reacendimentos. É por isso que os bombeiros têm que permanecer vigilantes a seguir a extinção dos fogos. Pode acontecer dias e dias depois, por isso é muito difícil dar um incêndio extinto por completo, temos sempre riscos de reacendimentos.
Os incêndios contribuem para a emissão de CO2 para a atmosfera e como resultado da erosão e do desaparecimento da vegetação, o CO2 já não é absorvido e retido pelas plantas e pelo solo.
Outro exemplo é o jacinto de água, que invade os rios e é considerado invasora em Portugal de acordo com o Decreto-lei 92/2019 de 10 de julho. Ao espalharem-se rapidamente, destroem ou degradam habitats, ameaçando a sobrevivência de plantas e animais nativos e contribuindo para a extinção de espécies.
Em muitos rios é comum ver máquinas a remover esta planta da água. Ela destrói o ambiente natural ao diminuir a intensidade da luz que entra na água, desequilibrando de forma notável a vida animal e vegetal existente no rio. O jacinte de água costuma cobrir uma grande parte de um rio, tapando por completo a entrada da luz natural, formando um tapete intransponível e impedindo qualquer troca entre o ar e a água. É um perigo para a flora selvagem e para a fauna devido a sua extensão ultra rápida.
Mais recentemente a Cortaderia selloana ou erva-das-pampas também foi alvo de restrição. É uma erva de grande dimensão que pode atingir dois a três metros de altura, com folhas finas, compridas e cortantes, plumas grandes e vistosas que provocam alergias e que produzem flores no verão.Essa planta que vemos cada vez mais nos terrenos não cultivados é mais competitiva do que as espécies locais e adapta-se com mais facilidade, propaga-se a uma velocidade impressionante. Ela consegue colonizar territórios abandonados, nos quais as plantas autóctonas demoram mais tempo a desenvolver-se. Ocupa o lugar delas e reduz a biodiversidade, aumenta o risco de incêndio. Também abriga coleópteros que devastam culturas de milho entre outros.
A Cortaderia selloana integra a Lista Nacional de Espécies Invasoras anexo II de Decreto-lei nº 92/2019 de 10 de julho.
Existe um projeto promovido pelo governo da Cantabria.
Podemos consultar o manual de boas práticas em www.stopcortaderia.org e www.cortaderia.cm-gaia.pt
Existem muitas espécies de árvores e plantas consideradas invasoras em Portugal, por isso temos que começar a dar mais valor às plantas nativas, temos tudo a ganhar para garantir o futuro das próximas gerações.
Como vimos num artigo anterior, o desequilíbrio que estamos a viver hoje deve-se em grande parte ao fenómeno de aquecimento global, que está a destruir a biodiversidade.
O aquecimento global é o processo de alteração da temperatura média da atmosfera e dos oceanos a nível global.
A acumulação de altas concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera aprisiona o calor emitido pelo sol, criando um manto e aumentando a temperatura média na terra.
Estes gases são libertados por automóveis, aviões e algumas grandes indústrias. O CO2 ou dióxido de carbono é o principal culpado. No entanto, o CO2 existe na natureza, se é considerado um poluente hoje em dia é porque se tem vindo a acumular artificialmente na atmosfera há várias décadas com proporções catastróficas.
Ler o artigo sobre o bonsai e o planeta.
Felizmente, estamos gradualmente a tomar consciência da importância da biodiversidade para o nosso futuro. O homem começou a criar reservas naturais, que são territórios delimitados e regulamentados para tentar salvar todas as espécies animais e vegetais que aí vivem. Existem bancos de conservação de sementes para poder recomeçar do zero em caso de situação desastrosa, para poder alimentar as pessoas e animais.
O estado português tem um papel preponderante na resolução do grave problema que representam os incêndios, deveria começar a indemnizar os proprietários de terrenos para que estes criem faixas livres que são faixas de terreno para contenção de fogos em áreas rurais ou florestais. Os donos de terrenos afetados não têm culpa e devem ser indemnizados, a obrigação tem que vir do estado, por motivo de utilidade pública e implica ressarcir os proprietários para os rendimentos perdidos. O estado deveria obrigar também a plantar espécies autóctones em substituição do eucalipto numa certa percentagem ou em zonas de maiores riscos de incêndios e indemnizar igualmente os proprietários.
Há uma grande lacuna em Portugal a nível dos terrenos agrícolas e florestais, existe uma quantidade desmesurada de pequenas parcelas, cujo algumas delas não se sabe a quem pertencem, aí o estado também deve intervir para reagrupar inúmeras parcelas pequenas juntando todas numa só e compensando cada proprietário de modo a não ser prejudicado monetariamente. Pode ser por via de troca de terreno por um valor equivalente ou simplesmente uma compensação monetária. O facto de reagrupar terrenos e deixar faixas de contenção, misturar espécies autóctones e espécies como eucaliptos e pinheiros que são mais rentáveis por serem mais rápidas a produzir madeira, trará muito mais benéficios tanto na qualidade da terra que sofrerá menos degradação como na redução de incêndios devastadores. A comunidade inteira tem que refletir e sobretudo os nossos dirigentes, estamos a gastar fortunas no combate aos incêndios, mas estamos a fazer muito pouco em relação a prevenção e à redução das causas diretas, fácil de evitar com um pouco de vontade coletiva. Reduzir o número de incêndios e sobretudo a sua intensidade e assim poupar mais o dinheiro dos contribuintes pode ser uma boa solução.
Deixar zonas de terrenos sem nenhuma cultura durante algum tempo, sobretudo em redor das florestas, para que a natureza volte a tomar conta da terra e permitir que as ervas e as flores que chamamos de daninhas comecem a surgir, tornando o meio favorável à vida de imensas espécies de animais, sejam grandes ou pequenos. A diversificação da flora dará vida a uma população de vegetais e animais completamente diferentes do que conhecemos hoje em dia e é isso que chamamos de biodiversidade.
Cabe aos nossos governantes refletir sobre o assunto e começar a prever orçamentos para a conservação das florestas, indemnizando os proprietários afetados, será a única solução a longo prazo, até lá continuaremos a gastar dinheiro para apagar fogos vezes sem conta, infelizmente.
Respeitar e melhorar a biodiversidade.
É essencial para o nosso futuro respeitar e sobretudo melhorar a biodiversidade tanto a nível global como local, devemos fazer um esforço para continuar a ter florestas que nos forneçam a madeira de que precisamos, mas alterando a nossa atitude míope baseada unicamente na rentabilidade imediata. Temos tudo a ganhar com a plantação de espécies autóctones e do maior número possível de espécies diferentes para garantir a sobrevivência de plantas, animais, insetos e todos os outros seres vivos que são favoráveis à evolução da biodiversidade local. Evitaremos assim a degradação do solo, a propagação dos incêndios e o desaparecimento de espécies, salvando assim muitas vidas humanas e poupando somas consideráveis que podem ser utilizadas para a reflorestação.