
7 erros a não cometer no transplante do bonsai.
A arte do bonsai é um passatempo muito saudável e ao mesmo tempo muito responsável. Formar um bonsai é como pintar um quadro, mas não devemos esquecer que antes de tudo é uma planta natural e um ser vivo. Por isso o cultivo e a manutenção de um bonsai devem obedecer a certas regras que, se não forem respeitados trarão muitos problemas à nossa pequena árvore. Regar, aramar, podar, adubar e transplantar são muitas tarefas que devemos efetuar. E é no caso específico do transplante que iremos tratar neste artigo.
O transplante é um passo essencial na vida do bonsai.
Como regra geral, transplantamos o bonsai de três em três ou de quatro em quatro anos, com o objetivo de substituir o substrato esgotado, podar as raízes para provocar o crescimento de novas raízes mais finas, substituir o vaso para o adaptar ao formato do bonsai. Não é recomendado transplantar com muita frequência, é indispensável dar tempo às raizes e ao bonsai ultrapassar o stress provocado por esta operação. Além de mais não se ganha nada em termo de crescimento, tanto na parte radicular, como na parte aérea e sim, o transplante causa stress à nossa árvore e por isso devemos dar o devido tempo ao nosso bonsai para recuperar.
NOTA:
- Só podemos praticar o transplante se o bonsai estiver de boa saúde, com muitas raízes vivas em volta do torrão e com folhagem viçosa. Caso contrário é preferível aguardar mais um ano até a árvore recuperar por completo. Nunca devemos transplantar um bonsai debilitado, se mexermos nas raízes de um bonsai muito fraco que já apresenta dificuldades em viver, poderá conduzir à morte da árvore, não é mudando de vaso que vamos resolver o problema, pelo contrário, neste caso o facto de cortar algumas raízes podemos estar a condenar à morte o nosso bonsai. Alguns clientes trazem-nos bonsais debilitados pensando que o problema provém da falta de espaço no vaso, mas a causa principal tem que ser resolvida antes de mexer nas ráizes, seja ela qual for, primeiro o bonsai tem que apresentar boas condições de saúde para se poder reduzir a parte radicular e a parte aérea. Como já explicamos mais acima, o facto de mudar o bonsai de vaso e cortarmos as raízes, provoca um momento de stress intenso à nossa pequena árvore, por isso ela deve estar saudável para que a recuperação após o transplante seja mais fácil.
Ler artigo original sobre o transplante do bonsai.
Mas é, contudo, essencial não cometermos nenhum dos erros seguintes.
A seguir vamos enumerar os sete erros mais frequentes aquando da realização do transplante do bonsai. São os erros mais comuns e mais irreversíveis que são praticados por pessoas com falta de informação ou informação incorreta.
Os sete erros mais comuns no transplante do bonsai.
1º erro- A época:
O primeiro erro que acontece com muita frequência é o transplante fora do período favorável.
De facto, não é de todo aconselhável transplantar em pleno verão, pois estaria condenado ao fracasso, porquê?
Muito simplesmente porque o bonsai não suporta o corte de raízes a meio do período de crescimento, o que conduz diretamente à restrição no seu abastecimento de água assim como de nutrientes e com a evaporação continuando a acontecer, o bonsai que se encontra sem recursos, seca e acaba por morrer. teremos que esperar pela fase de seiva parada para os bonsais de folha caduca e pouco antes do início da brotação para as coníferas, salientando que no caso das coníferas, nunca devemos mexer nas raízes de um pinus ou de um juniperus se as árvores já começaram a brotar, se cortamos raízes nessa altura estamos a condenar o nosso bonsai à morte. Temos que ter alguma sensibilidade na perceção do momento adequado, para algumas pessoas não é muito fácil interpretar, por isso é que aconselhamos os nossos clientes a trazerem o seu bonsai para que possamos verificar se é ou não o momento certo, só com alguma experiência e prática é que conseguimos ter sucesso e assim evitar problemas.
Alguns clientes trazem-nos um ou mais bonsais que morreram a seguir ao transplante que realizaram durante o verão, porque o vaso já estava cheio de raízes e o torrão não absorvia a água da rega. É um grande erro que devemos absolutamente evitar. É normal acontecerem situações como esta e claro que a tarefa da rega se torna então muito complicada. Se não foi possível realizar o transplante na altura certa, então no verão teremos obrigatoriamente de regar por imersão até que não saiam mais bolhas de ar do torrão. É a única forma para garantir que o bonsai fica bem regado, para além de lhe dar alguma sombra nas horas mais quentes, até chegar o momento certo do novo transplante sem lhe causar qualquer transtorno. O bonsai não irá morrer se tiver a sua situação hídrica contemplada, no pior dos casos o que poderá acontecer será não crescer por estar preso num torrão compactado, mas é melhor perder um ano de crescimento do que o bonsai.
É, portanto, muito importante efetuar o transplante no momento certo.
- Para as árvores de folha caduca, quando as árvores em estado selvagem perderem todas as suas folhas, o que na nossa região, em Portugal Continental e mais concretamente no litoral corresponde ao mês de dezembro até ao final de fevereiro. Nas regiões mais altas como nas serras, a época pode começar mais cedo conforma as condições meteorológicas.
- Para as coníferas, será prudente esperar até ao fim do inverno ou início da primavera, quando estas árvores produzem mais facilmente novas raízes, relembrando o que dissemos mais acima sobre o momento certo, pouco antes do início da brotação para estas espécies.
- Para o bonsai de interior ou tropical, o início da primavera é o melhor momento, imediatamente antes da sua vegetação começar a crescer novamente.
Relembramos que o bonsai tropical não sofre as estações do ano por estar sempre num ambiente mais ameno e assim nunca irá perder as folhas na totalidade, o que só acontece com um prolongado período de frio.
2º erro - o substrato:
O segundo erro é a escolha não acertada do substrato.
Para um excelente resulatdo e um transplante bem sucedido, não podemos pôr em questão a qualidade do substrato, pois esta é a base do sucesso na criação de um aglomerado de raízes finas que, por sua vez, alimentarão os ramos corretamente.
Para a maioria dos bonsais utilizamos a akadama hard quality, sem qualquer mistura, pois a akadama é especialmente concebida para o cultivo do bonsai. As principais qualidades da akadama sãos as suas proriedades de drenagem e retenção de nutrientes. A sua estrutura permite a circulação de água e ar durante vários anos sem compactação. É uma argila japonesa de origem vulcânica, composta por grãos reconstituidos e sem nutrientes. Existe a akadama regular quality, com um tempo de cozedura reduzido e que é um substrato básico aguentando de um a dois anos até compactar e ser substituído. Pode ser misturado com pómice para durar mais tempo. É o substrato ideal para transplantes anuais, árvores que vamos mudando de vaso para engrossarem.
A akadama hard quality, cozida várias vezes e que consegue aguentar até três anos sem compactar, é o melhor substrato conhecido até hoje e recomendado para um bom desenvolvimento do bonsai.
NOTA:
- Sobretudo nunca misturar terra de jardim ou areia do rio com akadama, os espaços criados entre os grãos devem ficar livres e se acrescentar outro tipo de substrato sem ser da mesma textura, então estaremos a tapar os espaços e assim a perder todas as qualidades da akadama. Podemos sim, acrescentar pómice, kanuma ou kiryuzuna que são substratos cozidos e suficientemente duros e deste modo nunca inviabilizar a consistência da própria akadama.
O facto de não conter quaisquer nutrientes é muito importante, pois permite-nos ter um controlo total sobre o nosso plano de fertilização. Existem no comércio substratos para bonsai que são enriquecidos com adubo, mas é preferível escolher outros tipos de substratos sem nenhum fertilizante acrescido. Temos que dominar por completo o nosso plano de fertilização ao longo de todo o período vegetativo.
Ler artigo sobre akadama para bonsai.
Utilizamos a akadma, sem qualquer outro substrato misturado, para praticamente todas as árvores de folha caduca, exceto os aceres e as azáleas que requerem um solo mais ácido. Neste caso, misturamos até trinta por cento de kanuma com akadama para atingir um PH inferior a sete. A taxa de PH é considerada neutra quando atinge o patamar de sete, abaixo é ácido e acima deste número é alcalino.
O PH tem uma extraordinária importância na dissolução e respetiva absorção dos elementos nutritivos e devemos ter isso em consideração no que toca às plantas acidófilas como as azáleas.
A kanuma é uma argila vulcânica modificada com água mineralizada, que é cozida em fornos a mais ou menos trezentos graus durante uma hora, exterminando assim qualquer micro-organismo.
Para as coníferas ou as resinosas, misturamos até trinta por cento de kiryuzuna nos bonsais mais jovens ou de pómice com akadama nos bonsais mais crescidos. A vantagem da kiryuzuna é que impede a compactação do substrato e a acumulação de água nas zonas radiculares. Graças ao seu elevado grau de dureza, é particularmente recomendado para o transplante de bonsais que são sensíveis ao alagamento, tais como os pinus e os juniperus. A kiryuzuna também tem a vantagem de não se agarrar em demasia às raízes facilitando-nos a tarefa quando fazemos o transplante, com a ajuda de um ancinho conseguimos de forma mais eficiente expor as raízes sem as ferir, contrariamente aos outros substratos até mesmo a kadama.
Podemos igualmente utilizar a pomice, que é também uma pedra vulcânica cuja dureza do grão impede a compactação do substrato. A pomice pode ser misturada com akadama sem qualquer problema.
Ler artigo sobre a pomice para bonsai.
3º erro - A poda:
O terceiro erro é a poda insuficiente das raízes ou dos ramos.
Em quase todos os casos de transplante de bonsai, é essencial podar as raízes e os ramos. O objetivo do transplante, como vimos acima, além de substituir o substrato que esgotou, é estimular o crescimento de raízes novas e mais finas que estão mais próximas do nébari, ou seja, da base do tronco.
Se as raízes forem podadas entre vinte a trinta por cento, é também necessário reduzir a massa foliar da mesma proporção, a fim de reduzir a evapotranspiração e favorecer assim a recuperação do bonsai após o transplante.
O que acontece se não reduzirmos os ramos nas mesmas proporções?
O bonsai acaba com mais massa foliar do que raízes, que já não são suficientes para alimentar a quantidade de ramos principais e rebentos secundários, fazendo assim com que o bonsai seque e morra.
Fazer um transplante podando só os ramos e sem cortar nehuma raiz ou vice-versa é um erro que pode custar a vida da nossa pequena árvore.
Seja qual for a poda que façamos, devemos utilizar sempre ferramentas muito afiados de modo a fazer cortes limpos e retos. Se cortamos ramos relativamente grossos, com mais de cinco milímetros de diâmetro por exemplo, é aconselhável a aplicação de uma pasta cicatrizante, que impede a saída da seiva e sobretudo, elimina a possibilidade de doença ou infeção parasitária.
Ler artigo sobre a cicatrização e a pasta cicatrizante.
4º erro - Escolher o vaso errado:
Como regra geral, escolhemos um vaso que deve ser pelo menos cinco centímetros maior que o vaso que queremos substituir. Por vezes podemos manter o mesmo vaso, quando é possível cortar um máximo de raízes sem provocar danos no bonsai e depois colocar novamente a árvore no vaso original.
Um vaso demasiado pequeno não favorece o desenvolvimento das raízes, por outro lado, um vaso demasiado grande beneficiará em excesso o crescimento das raízes, que se tornarão demasiado grtandes, o que não é o objetivo.
Importante:
- A qualidade do vaso é primordial, mas mesmo que optemos por um vaso de menor qualidade, devemos sempre certificar-nos de que o fundo é plano para deixar sair o excesso de água, caso contrário, o risco de apodrecimento das raízes é elevado.
Ler o nosso artigo sobre como escolher o vaso para o bonsai.
5º erro - O método de envasamento:
O momento certo e o substrato adequado são um bom começo, mas a forma como se faz o transplante pode ditar o sucesso ou o fracasso do processo.

Tal como explicado no nosso artigo sobre o transplante, primeiro precisamos de colocar as redes no fundo do vaso, fixos com arame de alumínio anodizado. Deixar pelo menos duas pontas de arame fora do vaso para fixar o bonsai. Em seguida, fazer um pequeno monte de substrato no fundo do vaso e colocar o bonsai no lugar, fazendo pequenos círculos para que a árvore asente corretamente no vaso. Puxar os arames deixados para a fixação e passá-los à volta do pé do bonsai e torcer o arame. Podemos usar um alicate Jin para este trabalho.
O mais importante a fazer é introduzir o substrato no interior e entre as raízes com um pau de madeira com uma ponta arredondada de modo a não ferir as raízes.
O objetivo desta operação é evitar brechas de ar entre as raízes, que é frequentemente a razão pelo qual o bonsai seca e morre. Pode levar até mais tempo essa operação do que o transplante em si, mas é indispensável para se conseguir um envasamento perfeito.
Ler artigo sobre o transplante do bonsai parte 2
6º erro - a fertilização:
Sexto erro e não o menos grave.
Um erro muito frequente que as pessoas cometem é aplicar um fertilizante logo após o transplante, o que é fortemente desaconselhado, as raízes recém cortadas não podem beneficiar do fertilizante, pelo contrário, o fertilizante pode causar queimaduras irreparáveis e levar à morte do bonsai.
No máximo, é possível aplicar vitaminas para promover a recuperação após o transplante. É um complemento organo-mineral líquido com efeito imediato para as plantas e que deve ser adicionado à água de irrigação. Ativa o crescimento, as folhas ficam mais verdes, favorece a floração, aumenta a resistência ao frio a às doenças.
Previne o choque após o transplante do bonsai e acelera a produção de raízes nas plantas recuperadas.
Ver mais sobre as nossas vitaminas para o bonsai.
O adubo só deve ser aplicado após o bonsai ter recuperado completamente e quando começar uma nova rebentação.
7º erro - Após o transplante:
Qualquer bonsai que tenha sido transplantado é um bonsai enfraquecido, pelo que devemos protegê-lo de condições desfavoráveis e colocá-lo num local protegido do frio e do sol, a meia-sombra por exemplo.
Acima de tudo, regar abundantemente após a operação de transplante, a fim de fixar o substrato às raízes e reduzir o risco de bolsas de ar entre as mesmas.
Depois, manter-se vigilante em relação à rega, pois um bonsai transplantado nunca poderá sofrer por falta de água nem com o excesso.
São os 7 erros a evitar no transplante do bonsai.
A seguir ao transplante e com os meses de primavera a chegarem, a recuperação deverá ter lugar nos meses seguinte, começando então o bonsai a produzir novos rebentos.
Evitar os erros acima descritos e respeitar os princípios básicos do transplante ajudará o bonsai a sobreviver a esta operação.
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