
O carvalho em bonsai.
O carvalho é uma árvore da classe das dicotiledôneas, ordem das fagales, família das fagáceas e do género Quercus e está presente em muitas partes do mundo com clima temperado.
A palavra carvalho ou Chêne em francês vem do gaulês cassinu, a seguir do latim casnus e finalmente, do antigo francês chasne.
A árvore era venerada pelos druidas, que colhiam o visco, que só crescia em lugares privilegiados.
Também era venerado pelos gragos, que o associavam a Zeus, o Deus do trovão na mitologia.
Em França, o rei São Luís fazia justiça debaixo de um majestuoso carvalho.
A religião católica também se apoderou desta árvore e muitas igrejas foram construídas junto a um carvalho sagrado.
O carvalho bonsai é monoico, ou seja, tem flores masculinas e femininas.
A floração dá-se na primavera e ocorre juntamente com o desabrochar das folhas. As flores masculinas estão penduradas em amentilhos alongados enquanto que as flores femininas são solitárias ou em espigas de dois a cinco, num longo pedúnculo colocado numa cúpula.
A frutificação termina em setembro e a germinação ocorre geralmente na primavera seguinte.
No entanto, nalgumas espécies, como o carvalho vermelho americano ou quercus rubra, a bolota pode demorar até dois anos a formar-se.
De folha perene ou caduca, folhas simples, coriáceas, de forma muito variável consoante a espécie e até no mesmo indivíduo. A casca é geralmente lisa nas árvores jovens, mas racha quando madura. A beleza tanto da azinheira como do carvalho pedunculado reside no fruto.
O carvalho em bonsai: nem todas as espécies se adaptam a esta técnica.
A bolota é a maneira mais simples de identificar um carvalho, se uma árvore produz bolota, é um carvalho. As folhas apresentam lóbulos ou pontas que se estendem desde a nervura central, em regra geral de seis a sete.
O carvalho branco possui lóbulos arredondados enquanto que o carvalho vermelho tem lóbulos pontiagudos.
A casca fina e escamosa é outro ponto de identificação do carvalho contrariamente a outras espécies cuja casca é composta por pedaços mais grossos como no pinus ou pedaços mais largos, compridos e rachados como nas bétulas.
A seguir enumeramos algumas espécies de carvalhos mais conhecidas:
- Quercus falcata
- Quercus ilex rotundifolium
- Quercus serrata
- Quercus variabilis ou sobreiro chinês
- Quercus texana
- Quercus myrsinifolia
- Quercus phillyraeoides ou carvalho asiático
- Quercus coccifera ou carvalho Kermès
- Quercus acutissima ou carvalho dente de serra
- Quercus chrysolepis ou carvalho dos canyons
- Quercus bicolor
- Quercus gambelli
- Quercus prinus ou carvalho castanheiro
- Quercus pyrenaica
- Quercus nigra ou carvalho negro
- Quercus phellos ou carvalho folha de salix
- Quercus glauca ou carvalho azul japonês
- Quercus velutina
- Quercus frainetto ou carvalho de Hungria
- Quercus garryana ou carvalho de Garry
- Quercus imbricaria
- Quercus cerris ou carvalho cabeludo
- Quercus coccinea ou carvalho vermelho
- Quercus ilex ou carvalho verde
- Quercus macrocarpa
- Quercus palustris ou carvalho do pântano
- Quercus petraea
- Quercus pubescens
- Quercus robur
- Quercus rubra ou carvalho vermelho da América
- Quercus suber ou sobreiro
- Quercus muehlenbergii ou carvalho amarelo
- Quercus nutallii
- Quercus shumardii
- Quercus trojana
- Quercus stellata
- Quercus georgiana
A seguir vamos entrar mais em detalhe sobre os carvalhos mais utilizados em bonsai:
Quercus pyrenaica:
- Também denominado como carvalho negral, com casca cinzenta muito fina e gretada nos espécimes mais velhos. Folhas simples e alternas com até quinze centímetros de comprimento, fendidas em lóbulos irregulares e profundos. Nas plantas mais jovens as folhas estão cobertas de pelos acinzentados que se mantém na parte inferior da folha enquanto se torna mais verde na parte superior.
A bolota tem um sabor amargo.
Encontra-se no norte interior de Portugal nas zonas montanhosas, centro e sul de Espanha. Atinge vinte a vinte e cinco metros de altura na natureza.
Distingue-se das outras espécies pelas folhas bastante recortadas e com a parte inferior muito tomentosa e esbranquiçada, mas a principal particularidade do quercus pyrenaica são as folhas que persistem murchas na árvore e sem caírem durante a maior parte do inverno.
É uma espécie protegida no país vizinho nomeadamente na Andaluzia.
Quercus robur:
- É chamado de carvalho comum ou roble alvarinho. Espontânea no norte e centro de Portugal e também em zonas do litoral, é a espécie de carvalho mais abundante em toda a Europa. Pode atingir trinta a quarenta metros na natureza, é uma árvore muito vigorosa. Tronco grosso com casca cinzenta acastanhada, ficando mais escura com a idade.
Bolota de dois a quatro centímetros de comprimento. Aguenta até vinte graus negativos.
Multiplicação por sementeira com estratificação fria a quatro graus durante trinta a sessenta dias e sementeira na primavera.
São atribuidas algumas propriedades medicinais ao carvalho robur, como por exemplo diminuir as secreções das mucosas, antisséptico, serve para desinfeção de feridas e certos orgãos, combate a febre e diminui a fadiga.
Quercus faginea:
- Também chamado de carvalho cerquinho ou carvalho portugês. Atinge cerca de vinte metros de altura na natureza. Com folhas simples, ovais e dentadas de cor verde escuro e pequenas comparando com outras espécies, não ultrapassando os dez centímetros de comprimento. As folhas secas permanecem na árvore quase até a primavera.
Bolota com dois a três centímetros de comprimento. Semear em cima de areia ou vermiculite. Manter a sementeira húmida. Taxa de germinação de quarenta a cinquenta por cento nas melhores condições. Um quilo contém entre duzentas e duzentas e cinquenta sementes.
Quercus rotundifólia:
- Igualmente chamado de azinheira, atinge os vinte metros de altura na natureza. Com folhas simples, arredondadas e recortadas de cor verde-escuro na parte superior e ligeiramente esbranquiçado na parte inferior. Folha perene. Nas plantas mais jovens fazem lembrar as folhas de azevinho tornando-se mais arredondadas com a idade. Bolota com dois a três centímetros de comprimento.
Quercus suber:
- É mais conhecido como sobreiro ou chaparro no alentejo, atinge os vinte metros de altura na natureza e como o quercus rotundifolia é também de folha perene. Folhas simples mais arredondadas sem grande pronuncio dos lóbulos, de cor verde-escuro na parte superior e acinzentado na parte inferior que podem atingir até dez centímetros de comprimento. Bolota com dois até cinco centímetros de comprimento.
É uma árvore que pode viver centenas de anos, dizem até mil anos e Portugal é o melhor produtor de cortiça do mundo. O sobreiro teme o frio, a sua casca grossa e fissurada que por vezes pode atingir até vinte centímetros de espessura na natureza, é muito aprecida em bonsai e confere-lhe um estilo muito particular.
Na iberbonsai reproduzimos o quercus suber por sementeira na primavera e temos pré-bonsais e bonsais disponíveis durante todo o ano.
A característica principal do sobreiro é a sua casca, ou seja, a cortiça, cinzento-escuro, grossa e gretada, porosa e muito leve. A cortiça é utilizada no fabrico de rolhas para garrafas de vinho.
A cortiça é uma armadura para o sobreiro, é um isolante e arde só superficialmente, protegendo assim a parte viva da árvore. Depois de um incêndio os brotos adormecidos por baixo da casca irão acordar dando vida a novos ramos. Levam cerca de quinze a vinte meses a seguir à passagem do incêndio para formarem uma nova superfície vegetal viva.
O sobreiro é uma árvore de fácil cultivo em bonsai, mas de difícil aramação nos ramos mais grossos, muito quebradiços e com casca frágil. Por isso e como suporta bem a poda, será esta última, a principal técnica para formar o bonsai de sobreiro.
Ler mais sobre a poda de estruturação.
Multiplicação por sementeira direta na primavera a partir de vinte graus, manter a sementeira sempre húmida.
O bonsai quercus suber não aguenta temperaturas abaixo dos cinco graus. A partir dessa temperatura devemos proteger o torrão do nosso bonsai assim como os primeiros vinte centímetros dos ramos com palha ou turfa ou simplesmente resguardá-lo num local sem aquecimento, mas com o máximo de luz natural possível, sem esquecer claro, de vigiar a rega.
Ler artigo original sobre o quercus suber ou sobreiro
Quercus rubra:
- Também chamado de carvalho americano, mais difícil em bonsai devido à sua folha muito grande. Casca cinzenta, folhas divididas até quase ao centro da folha em cerca de sete a onze pares de lóbulos triangulares e pontiagudos, cada um com um a três dentes aristados. Não é muito comum encontrarmos um bonsai de quercus rubra devido à sua folha desmesurada. Com o tempo conseguimos reduzir o tamanho da folha do quercus rubra, mas nunca ficará de tamanho muito pequeno.
Quercus ilex:
- Igualmente chamado de azinheira, de folha perene, atinge dez a quinze metros de altura, mas por vezes pode chegar aos vinte cinco metros de altura. Casca cinzenta e fendida, folhas simples com mais ou menos cinco a sete centímetros de comprimento, de cor verde acinzentada na parte superior e cinzento esbranquiçado na parte inferior.
DICA:
- O carvalho não suporta muito bem a desfolha, até se torna perigoso essa tarefa. É preferível cortar as folhas maiores durante a época de crescimento para obrigar a rebentação de folhas mais pequenas.
Relembramos que o objetivo da desfolha do bonsai é acelerar a ramificação e originar uma nova rebentação, como se fosse uma segunda primavera provocando o aparecimento de folhas cada vez mais pequenas. Permite igualmente o controlo do crescimento de certos ramos do bonsai quando, por exemplo, um ramo é mais forte comparando com o resto da árvore, a desfolha desse ramo vai ajudar a reduzir o vigor, ou pelo contrário, se necessitarmos dar mais força a um ramo enfraquecido, faremos a desfolha de todo o bonsai menos do dito ramo.
Continuar a ler o nosso arigo original sobre a desfolha do bonsai.
A multiplicação dos carvalhos é feita por sementeira a partir das bolotas. Regra geral a taxa de sucesso é na ordem dos sessenta por cento em condições favoráveis.
Possibilidade de plantar as bolotas diretamente num vaso no outono com uma ligeira camada de substrato e deixar no exterior durante o inverno. Germinação na primavera. Esta técnica tem um inconveniente, pode facilmente provovar o apodrecimento das bolotas. É mais aconselhável praticar a estratificação a frio durante trinta a sessenta dias e realizar a sementeira na primavera a partir de vinte graus de temperatura exterior.
A estratificação consiste em guardar as sementes num meio específico, num local quente ou frio dependendo das espécies. A estratificação a frio ajuda a semente a sair do período de dormência, fragilizando o caroço, que fica mais quebradiço.
Ler artigo original sobre a sementeira do bonsai.
Particularidade do carvalho em bonsai:
O bonsai carvalho é muito sensível ao oídio, que é um pó branco nas folhas. Para diminuir o risco de aparição do oídio convém evitar regar ou molhar as folhas, regando diretamente por cima do torrão. Quando mais humidade houver no ambiente do bonsai quercus, mais possibilidade do oídio prosperar.
O carvalho é uma referência de perseverança e resistência no tempo contra todas as condições climatéricas extremas, seja tempestadas, secas, trovoadas ou outros. O carvalho fica cada vez mais robusto até ser praticamente impossível ser retirado do solo por um temporal. Em contrapartida as repercussões são visíveis na árvore que propicia um aspeto irregular e deprimido, até parece triste devido às consequências das condições climatéricas extremas.
Em bonsai, o carvalho tem a vantagem de deixar aparecer os ramos devido às suas pequenas folhas, folhagem leve e estrutura tortuosa, muito importante na hora de apreciar a estrutura do bonsai
O bonsai carvalho é uma árvore majestosa, carregada de história e de simbolismo.
Regra geral o carvalho multiplica-se por sementeira na primavera, mas também pode ser por estaca, muito raramente ou alporquia aérea ou Toriki em japonês: este é o método de propagação do bonsai mais utilizado e sobretudo o mais fácil e menos dispendioso.
É uma técnica de propagação de planta praticada acima de solo, executada diretamente sobre um caule lenhificado, ou seja, com a aparência de madeira. Geralmente feito na primavera em árvores perfeitamente saudáveis, com uma massa foliar favorável ao crescimento da árvore, caso contrário a alporquia poderia não sobreviver. O desmame, ou por outras palavras, a separação do rebento da árvore-mãe, tem lugar no inverno ou, o mais tardar, na primavera seguinte.
Ler artigo original sobre a alporquia do bonsai.
Doenças mais comuns no carvalho:
- Oídio: é um fungo que provoca um pó branco que cobre as folhas e os ramos mais jovens do carvalho. Pode ser tratado com flor de enxofre que espalhamos à mão ou com um aparelho próprio por cima das folhas, repetindo até desaparecer por completo o problema.
- Podridão: muitos fungos podem provocar o apodrecimento das raízes, por isso, convém evitar encharcar constantemente o torrão. Regar com moderação e só quando necessário, arejar a parte de cima do torrão com um ancinho para facilitar a passagem do ar e reduzir a evaporação. Também pode provocar manchas escuras nas folhas, daí o controlo absoluto da rega e do sombreamento no verão. Vigiar também se os furos do vaso estão desobtruídos, caso contrário a água da rega em excesso não pode ser evacuada e aumenta o risco de apodrecimento das raízes.
- Antracnose: igualmente provocada por um fungo, o Colltotrichum truncatum. Nota-se pelas manchas castanhas escuras, combate-se com fungicidas à base de cobre como a calda bordalesa.
- Insetos: podem causar danos importantes nas folhas, caso apareçam basta pulverizar com inseticida sistémico para resolver o problema.
Regra geral basta retirar as folhas doentes para evitar a proliferação dos fungos ou insetos, monitorizar a rega e evitar o excesso de humidade, aplicar o adubo com moderação e sempre com uma fórmula o mais equilibrado possível, relembramos que um adubo com uma forte percentagem de azoto em relação aos outros elementos não é recomendado no cultivo do bonsai, favorece o crescimento da folha e diminui a resitência às doenças e fungos.
Estilos frequentemente encontrados para o quercus em bonsai.
O carvalho não é favorável para a criação de mame ou shohin devido ao seu desenvolvimento vigoroso, mas a partir dos cinquenta ou setenta centímetros de altura já se pode pensar num estilo como hokidashi, que é um estilo de bonsai em forma de vassoura onde os galhos seguem em todas as direções formando e abrindo-se como um leque, Sokan estilo de bonsai com tronco duplo e caso o tronco principal tiver alguma curvatura, o segundo deve seguir o mesmo movimento e, eventualmente Han Kengai, estilo de bonsai em semi cascata. O tronco principal e seus ramos devem mergulhar e não ultrapassar os limites da base do vaso.
O bonsai carvalho é um bonsai de exterior.
Ler mais sobre os estilos de bonsai.
Onde colocar o bonsai quercus:
Na varanda, no terraço, no pátio ou no jardim, lugares onde será fácil a sua manutenção, o mais importante é conseguir um ambiente com o máximo de luz natural durante o dia. Podemos aproveitar árvores de grande porte do jardim para protegerem os nossos bonsais tanto do frio como do calor e do sol intenso no verão. O sistema de rega automático que temos para regar a relva e que está provavelmente programado para vinta a trinta minutos, apenas de forma intermitente, não será de longe suficiente para regar o bonsai, além do que não devemos regar o bonsai no fim do dia para evitarmos doenças ou fungos. O bonsai deve ter o seu lugar próprio no exterior, pelo qual teremos de nos preocupar com a sua rega diária e a proteção contra o sol durante as horas de calor mais intenso.
Ler artigo original sobre como cuidar do bonsai de exterior.
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