
Madeira morta no bonsai.
O bonsai não é apenas uma planta desenhada pela poda e a modelagem com arame, mas é sobretudo uma autêntica e verdadeira obra de arte.
A arte do bonsai consiste em formar uma árvore para que se mantenha pequena, mas com todas as características para parecer uma árvore muito antiga. É a réplica fiel de uma árvore na natureza, mas com tamanho reduzido. O processo pode perdurar várias gerações, visto o bonsai ser uma planta viva, sempre em crescimento, a sua respetiva formação nunca será considerada como terminada e definitiva.
Ler artigo original sobre a arte do bonsai.
Existem muitos estilos de bonsais que podemos conseguir com ferramenta específica e ajuda de arame de alumínio anodizado ou de cobre cozido.
Estilo de madeira morta no bonsai.
Quais são os estilos de bonsai mais conhecidos:
- Chokkan: estilo de bonsai ereto formal com o tronco bem definido que vai se afunilando até ao topo da árvore;
- Fukinagashi: estilo de bonsai varrido pelo vento, o tronco principal e todos os galhos devem seguir numa única direção;
- Han Kengai: estilo de bonsai em semi cascata. O tronco pricipal e os seus ramos devem mergulhar e não ultrapassar os limites da base do vaso;
- Hokidashi: estilo de bonsai em forma de vassoura, os galhos seguem em todas as direções formando e abrindo-se como um leque;
- Ikadabuki: estilo de bonsai lembrando uma balsa, formado por vários troncos ligados por uma raiz que corre pelo chão;
- Ishitsuki: árvore que cresce na rocha;
- Kabudachi: estilo de bonsai multi troncos. Todos os troncos crescem para fora de um único sistema de raízes, apresentando-se como uma única árvore;
- Kengai: estilo de bonsai cascata. Estilo que retrata árvores que se sustentam na superfície da montanha ou em fendas de um penhasco. O tronco deve pronunciar-se para fora do vaso e mergulhar;
- Literati: estilo de bonsai de forma livre, a árvore deve ter um desenho pouco comum e diferente dos modelos encontrados na natureza;
- Moyogi: ereto formal. O tronco apresenta várias curvas que começam na base e diminuem até ao seu ápice;
- Neagari: estilo de bonsai com as raízes expostas;
- Nejikan: estilo de bonsai que faz lembrar um dragão. Na natureza são árvores que, com a idade, têm o tronco rugoso e retorcido;
- Penjing: estilo de bonsai que tenta reproduzir uma paisagem completa encontrada na natureza com todos os seus detalhes;
- Rosoku: estilo de bonsai em chama, particularmente utilizado com o ginkgo biloba;
- Sabamiki: tronco divido, oco. Estilo utilizado principalmente nas árvores de folha caduca, algumas coníferas e os prunus;
- Sekijoju: raízes sobre rocha, a pedra incorpora-se à árvore como se as raízes segurassem a rocha;
- Shakan; estilo de bonsai com inclinação do tronco de pelo menos trinta graus para um dos lados da árvore de bonsai;
- Sharimiki: estilo de bonsai com madeira exposta, com o tronco principal retorcido e rachado, esbranquiçado e polido pela areia carregada pelo vento;
- Sokan: estilo de bonsai com tronco duplo. Caso o tronco principal tenha alguma curvatura, o segundo deve seguir o mesmo movimento;
- Takozukuri: estilo polvo, a forma e a disposição dos galhos lembram os tentáculos de um polvo, estilo parecido com o estilo nejikan ou dragão;
- Yose-Ue: estilo de bonsai que faz lembrar uma floresta. Pode ter sete, nove, onze ou mais árvores, mas sempre com uma árvore que é o pilar daquele conjunto.
Ler artigo original sobre o glossário e estilos de bonsai.
Cada um de nós pode ter uma ideia diferente sobre o desenho que pode definir o nosso bonsai em particular, é claro que a formação a partir da poda e da aramação é o ponto de partida, mas podemos extrapolar o básico e passar para uma idealização mais pessoal e sofisticada que faz lembrar algo natural que podemos encontrar nas montanhas a partir de uma certa altitude, é o caso da madeira morta, ou seja, o mais puro sinal da brutalidade e da severidade da natureza.
A prática do jin-shari para se conseguir madeira morta no bonsai é a prova mais espetacular que se consegue numa planta natural que está em constante desenvolvimento.
Porque fazer madeira morta no bonsai?
A criação de madeira morta no bonsai tem por objetivo melhorar e superar a estética, tem de ser realizada de maneira ponderada e respeitando o aspeto natural, pois na natureza a madeira morta numa árvore é o relato da vivência e respetivas fatalidades ao longo do tempo devido à seca extrema, vento, neve, raios.
É nisso que devemos pensar na realização de madeira morta no nosso bonsai, o resultado final é a representação em miniatura das condições climáticas difíceis que uma árvore pode sofrer nas montanhas ou em penhascos íngremes. Não é nenhuma agressão exacerbada sobre uma árvore, modelar um bonsai não deve ser um ato de barbaria.
Não esquecer que tanto a formação do bonsai como a realização de madeira morta nunca irão ter um resultado imediato, só o tempo dará conclusões satisfatórias e mais naturais.
O vento, o sol, a água são os principais fatores que irão dar o toque final e sobretudo mais natural ao bonsai com o passar dos anos.
Pretender realizar madeira morta digna desse nome em pouco tempo é uma ilusão, o sucesso deste trabalho depende da sua projeção no tempo, não podemos pensar no imediato, mas prever a evolução do nosso trabalho no bonsai a longo prazo.
Nem todas as espécies de árvores são propícias para a realização da madeira morta, têm que ser árvores de madeira dura e regra geral árvores de folha perene, nos casos de árvores de folha caduca, poderia provocar o apodrecimento do ramo.
O mais utilizado e também mais espetacular é o juniperus chinensis, é o bonsai de referência para a madeira morta.
É importante referir que os bonsais para a realização de madeira morta, têm que ser árvores muito saudáveis, pois a prática do jin shari enfraquece a planta e pode causar stress irreversível. A época favorável para a realização de madeira morta é no outono inverno quando a vegetação está quase parada, assim não enfraquece o bonsai, aproveitamos a altura da dormência da árvore para minimizar o stress.
Como realizar madeira morta no bonsai?
- Nos ramos mais finos, primeiro fazemos um corte na casca na base do galho, ao redor de todo o seu perímetro, com uma tesoura ou um x-ato, para delimitar a parte a ser descacada. Em seguida, basta esmagar o ramo com um alicate jin e a casca irá soltar-se sozinha.
- Para galhos maiores e no tronco, é necessário primeiro delimitar a área da madeira morta a ser criada por meio de uma incisão profunda com um x-ato. Em seguida, é necessário levantar a casca com cuidado, utilizando uma faca ou um cinzel não muito afiados.
Se utilizamos uma faca muito afiada, podemos cortar em demasia a madeira, provocando cicatrizes difíceis de corrigir. Para fazer este trabalho, é possível usar uma ferramenta elétrica com uma escova circular de metal, muito macia.
NOTA:
- É aconselhável parar um shari ou um sabamiki a dez milímetros do solo, isso limitará os riscos de apodrecimento.
- Temos que ter muito cuidado com os teixos e as oliveiras, por estarem sujeitas a um ressecamento das bordas da madeira viva, às vezes com alguma proporção de vários centímetros. Portanto, é preciso levar isso em consideração ao traçar a madeira morta e descascar uma superfície mais pequena.
- É igualmente fundamental ter em atenção, ao realizar madeira morta, para não cortar em excesso veias de alimentação importantes para os ramos superiores.
Compreender a estrutura de um galho é essencial para não cometer erros fatais.

O cambio é uma fina camada de células em divisão ativa localizada logo abaixo da casca do floema.
O xilema transporta principalmente água e minerais das raízes para outras partes da planta, nomeadamente para as folhas. O xilema transporta as substâncias de baixo para cima, ou seja, das raízes para as partes aéreas da planta. As plantas utilizam dois mecanismos para transportar a seiva bruta: o efeito de sucção e a pressão radicular. O efeito de sucção está ligado à transpiração da planta, ou seja, à perda de água sob a forma de vapor que se localiza quase exclusivamente nas folhas. A pressão radicular está relacionada com o fenómeno de osmose.
O xilema é composto por células mortas, chamadas traquelídeas, que são especializadas no transporte de água e minerais. Estão presentes em todas as plantas vasculares e constituem as principais células condutoras de água na maioria das coníferas.
O xilema permite a circulação da seiva bruta, por exemplo a água e os sais minerais extraída do solo pelas raízes. A circulação ocorre verticalmente e nos traquideos, a presença de uma parede transversal provoca uma circulação em ziguezague.
O floema está localizado logo abaixo da casca, ao lado do xilema.
O floema é um tecido vegetal especializado no transporte de substâncias orgânicas, tais como hidratos de carbono, hormonas e outros compostos necessários ao crescimento e metabolismo da planta. Transporta principalmente a seiva elaborada, que é produzida pela fotossíntese nas folhas para outras partes da planta, como caules, raízes, flores e frutos. O floema é, portanto, essencial para a distribuição de nutrientes por toda a planta e para o seu bom funcionamento geral.

O jin e o shari.
O jin é uma parte descascada do galho, é a técnica que consiste em tirar a casca dum ramo ou parte do ramo que não seja vital para a árvore, cujo objetivo é aparentar padecer de condições climáticas extremas.
O shari é uma parte sem casca do tronco, é a mesma técnica, mas aplicada ao tronco da árvore, por vezes de forma tão intensa que podemos ver uma parte muito reduzida da casca original alimentar a árvore. Sobre os cortes feitos na casca aconselhamos aplicar uma pasta cicatrizante para facilitar a cicatrização e evitar a proliferação de fungos.
Ler o nosso artigo original sobre o jin shari.
O estilo sabamiki ou tronco dividido ou oco utiliza-se nas árvores de folha caduca, algumas coníferas e os prunus. Faz nos lembrar o resultado da trovoada ou das condições severas devido às intempéries. O sabamiki deve parecer uma árvore partida por um raio, ou quebrada por deslizamento de terra ou fortes ventos durante uma tempestade. Progressivamente a árvore vai perdendo a sua casca e a sua estrutura começa a apodrecer. Nas montanhas, as rochas e as pedras de grande porte deslocam-se e rolam quebrando e derrubando árvores, são situações naturais que provocam o surgimento do chamado sabamiki.
A ferramenta para realizar madeira morta no bonsai:
- A podadora côncava para realizar cortes limpos e com precisão para facilitar a cicatrização;
- A podadora racha-tronco que penetra no ramo, rachando-o longitudinalmente;
- O alicate jin para retirar a casca dos galhos e conseguir um acabamento mais natural;
- As escovas para limpar os ramso;
- A ferramenta elétrica com fresas próprias.
Ler artigo original sobre a ferramenta para bonsai.
A seguir à operação, podemos aplicar um produto à base de ácido sulfúrico. O produto além de proporcionar a cor branca que faz sobressair a folhagem, tem a particularidade de ser um excelente fungicida e diminui o processo de decomposição natural da madeira. Aplica-se com um pincel, tendo cuidado e por razão de segurança, de colocar sempre o ácido em cima da água e não a água por cima do ácido.
Convém repetir a operação várias vezes até obter a cor pretendida e depois todos os anos para manutenção.
Relembramos que em Portugal, infelizmente é proibido vender e comprar o conhecido líquido jin, comercializado noutros país sem qualquer restrição. É um produto pronto a utilizar e de fácil aplicação.
Certo que não é obrigatório realizar um jin ou um shari sobre o bonsai para conseguir um espécime de grande distinção, mas quando conseguimos um, é notório o efeito deslumbrante que pode provocar.
Algumas dicas a propósito da madeira morta:
- Sobre juniperus, é preferível descascar o ramo loga a seguir ao corte para obter um jin mais comprido;
- Nos pinus, cortar o ramo e deixá-lo durante dois a três anos para que a seiva tenha tempo de secar lentamente, assim a madeira morta terá mais resistência no tempo;
- No teixo ou taxus, madeira muito dura que permite trabalhar com máquina sem nemhum problema;
- Na pícea, madeira muito tenra e neste caso é preferível não descascar o ramo, nem colocar arame ou tentar dar uma forma durante dois a três anos e só depois descascá-la.
Valorizar a madeira morta no bonsai
Se a árvore já tiver madeira morta, que pode ser o caso de uma árvore de viveiro, de um prébonsai, de yamadori ou de um bonsai já formado, primeiro temos que limpá-la e higienizá-la com cuidado. De facto, não se deve danificar a patina que o tempo conseguiu proporcionar a árvore, não se pode estragar este valor adquirido se a árvore tiver escamas de madeira e quebrá-las com uma escova demasiada grosseira. Neste caso a limpeza pode ser feita com uma escova de nylon ou uma escova de latão muito macia. É necessário remover todas as partes podres até obter uma madeira dura e saudável. Se houver cavidades profundas onde a água possa acumular-se e provocar um problema de apodrecimento, será então primordial fazer um furo de drenagem o mais discreto possível. Por vezes, algumas partes mortas ficam escondidas sob a casca e neste caso podemos observar que um leve descolamento da casca na borda do shari está a aparecer. É necessário, então, levantar a casca com um cinzel de madeira e removê-la em pequenos pedaços até encontrar um câmbio saudável.
Como retirar a madeira:
No caso das madeiras fibrosas, como o zimbro, o pinheiro e o teixo, basta puxar o veio da madeira com um alicate jin, agarra-se numa fibra com cerca de dois milímetros de diâmetro, depois enrola-se na mandíbula do alicate. O principal problema neste caso é encontrar a ponta correta. Podemos numa primeira fase dividir a extremidade de um ramo, não muito grande, com um alicate, até obter fios de tamanho de mais ou menos dois milímetros. Estes fios são depois apanhados, um a um, e desenrolados.
Ou então podemos também tentar plantar um cinzel na madeira do tronco ou de um grande ramo na direção dos veios, cravando-o depois paralelamente a um ou dois milímetros de distância. Em seguida, é preciso levantar a fibra deixada no meio.
Nas madeiras mais densas, como o buxo e a oliveira, a única solução consiste em talhar com goivas ou com ferramentas elétricas. Trata-se de uma técnica mais difícil que exige uma maior experiência.
Depois do trabalho na madeira morta, temos que remover as pequenas farpas com um pequeno maçarico, tendo o cuidado para não queimar as partes vivas, que podem ser protegidas com pano húmido ou papel de alumínio amassado. As zonas enegrecidas devem então ser removidas com uma escova de arame macia.
A última etapa consiste em tratar a madeira com um produto próprio, ou seja, o líquido jin, mas este produto, que é perigoso para a árvore em doses elevadas é também proibido em Portugal, como já vimos.
É preferível esperar alguns meses a seguir ao trabalho da madeira morta, até que a madeira esteja seca e o câmbio tenha cicatrizado, antes de utilizar a nossa mistura de ácido sulfúrico com água em substituição do líquido jin. Por segurança aconselha-se proteger o torrão com um saco plástico ou outro material para que o produto não atinja as raízes do bonsai que poderia queimá-las e de seguida acabar por morrer.
A altura ideal para este tipo de tratamento é o verão, quando o calor é mais intenso.
Para facilitar a penetração do líquido nas cavidades mais profundas, começar por pulverizar generosamente a madeira, limpá-la com um pano para evitar o excesso de água e depois revestir a madeira com o líquido com uma diluição mínima numa primeira aplicação. Para começar utilizamos um pincel fino.
A cor amarela brilhante muda gradualmente para branco à medida que a madeira é regada.
O tratamento com o líquido jin deve ser repetido todos os anos. Para estes tratamentos subsequentes, é preferível diluir fortemente o líquido jin com água para evitar um acabamento não natural e demasiado branco da madeira, dependendo do gosto de cada um, claro.
Em coníferas como o juniperus, consegue-se uma extraordinária obra de arte e escultura viva graças ao contraste da folhagem com a madeira tratada.
Ver as nossas coníferas.