
Kusamono, shitakusa e o bonsai.
A arte do bonsai também contempla o ambiente no qual o bonsai está inserido, seja numa exposição, seja na nossa própria casa. O bonsai exposto sozinho num cantinho do nosso terraço não tem valor nenhum, ou muitos bonsais exibidos no chão, sem qualquer relevo. Basta pensarmos um pouco e percebemos que temos que valorizar as nossas pequenas árvores e a primeira coisa a fazer é procurar uma mesa ou um suporte para cada um deles e sobretudo colocá-los em altura, quase à altura da visão, o bonsai aprecia-se em altura e não no chão. A mesa ou o suporte pode ser elaborado ou muito simples, o objetivo é destacar o bonsai de tudo o resto.
Para ajudar nesta tarefa temos uma solução suplementar à base no qual é apresentado o bonsai, que consiste em juntar uma planta mais pequena perto do nosso bonsai para amplificar a dferença de volume, a finalidade é realçar ao máximo o bonsai, chama-se shitakusa em japonês.
O kusamono ou o shitakusa é a representação da terra.
O kusamono é uma espécie de erva ou flores, cultivada num vaso raso e é exposto individualmente, pode fazer parte de uma coleção ou ser apresentado só.
No Japão encontrámo-lo no jardim ou dentro de casa, muitas vezes acompanhado de um kakemono ou kakejiku, tradicional pintura ou caligrafia japonesa feita sobre papel de seda ou tecido, em forma vertical e podendo ser enrolado para o seu armazenamento.
O objetivo do kusamono é encantar o nosso olhar.
Chama-se shitakusa quando exposto juntamente com um bonsai ou com um suiseki, não sendo o objeto principal da exposição, chama-se também planta de acompanhamento na linguagem comum na Europa.
O shitakusa atua como auxiliar, tendo a função de complementar um conjunto e realçar o tema principal.
O bonsai é uma árvore que modelamos para que fique parecido com um exemplar na natureza, mas em tamanho reduzido. Os suiseki são pedras formadas naturalmente pela natureza, têm o poder de sugerir uma paisagem, uma pessoa, um animal ou um objeto. São peças com um autêntico valor decorativo e artístico, esta arte tem mais de dois mil anos de idade e cada suiseki é exposto, por tradição, numa base de madeira talhada com exatidão ao tamanho e contorno da pedra.
Na iberbonsai temos alguns suiseki em exposição que podem serem vistos aos fins de semana nas nossas instalações em Maceda Ovar, das 10H às 12H e das 14H30 às 17 horas.
Ler artigo original sobre a arte do bonsai.
Ver onde estamos.
Shitakusa em japonês significa erva rasteira. Shitakusa pronuncia-se staksa porque as vogais i e u não se lêem na lingua japonesa.
Não podemos falar de bonsai e de exposição sem falar de shitakusa, é uma peça indispensável para realçar o nosso bonsai, tal como o kakemono ou o suiseki.
Este conjunto é dedicado a arte e a espiritualidade, onde os japoneses propôem a representação de uma paisagem completa através da exposição de um bonsai ou de um ikebana, arte japonesa de arranjos florais, associado a um ou dois outros elementos como o shitakusa.
A originalidade da planta de acompanhamento ou shitakusa é o facto de poder ser exposta em qualquer suporte, vaso original, peça de madeira ou de metal, pedra ou laje, etc. Ou até mesmo sem nenhum suporte, mas o principal objetivo em relação ao vaso é ser o mais discreto possível, não pode ter rebordos ou então terão que ser muito reduzidos.
Por isso não podemos utilizar vasos de bonsai para o efeito.
Na iberbonsai temos vasos em miniatura esmaltados e com furos, de cinco a doze centímetros, perfeitos para a apresentação de shitakusa ou kusamono. São vasos produzidos e cozidos da mesma forma e com as mesmas características que os vasos para bonsais.
Ver os nossos vasos.
Existem inúmeras espécies de plantas que podemos utilizar como planta de acompanhamento, perenes ou caducas, com ou sem flores:
- Sedum, ophiopogon, oxalis, sempervivum, lickens, fetos, dendrobium ou ainda o Rhus succedanea que faz um lindíssimo contraste no outono com a sua folhagem avermelhada, entre muitas outras.
E com um pouco de imaginação podemos encontrar ervas lindas colhidas na beira de um caminho, ervas daninhas que invadem os canteiros e oferecem uma florzinha branca ou cor-de-rosa que nos faz vibrar. Tudo pode servir, morangos silvestres, violetas, margaridas e até dentes-de-leão... desde que o tamanho e o respetivo crescimento da planta sejam reduzidos e que seja possível crescer num vaso estreito. Damos sempre preferência a espécies anãs, com folhas ou flores pequenas, ou que possam ser muito reduzidas. A planta deve ser condensada e se cobrir o vaso, melhor ainda. Deve ter flores ou frutos pequenos que nunca podem ser em grandes quantidades.
O destaque deve ser a originalidade, quanto mais pequeno e mais carácter possa ter a nossa planta, melhor.
Não existe um tamanho máximo, simplesmente deve existir uma harmonia entre o kusamono ou o shitakusa e o seu ambiente.
Colocados ao lado de uma árvore bonsai, refletem frequentemente o carácter da árvore, acrescentando um elemento natural à exposição. Uma planta com um estilo ligeiramente inclinado, por exemplo, pode ser exposta ao lado de um salix-chorão. As árvores altas e esguias de estilo literati são realçadas por ervas finas.
É essencial que o shitakusa reflita a atmosfera da árvore que acompanha.
NOTA:
- Aconselhamos ter várias espécies de plantas para poder acompanhar o bonsai ao longo do ano, é importante o nosso shitakusa participar nas várias estações do ano, sempre em contraste com o bonsai que pode ser de folha perene ou caduca e assim sendo devemos encontrar um shitakusa de folha caduca ou perene ou seja, de características opostas na mesma altura do ano.
- Por norma devemos ter plantas para todas as estações do ano e algumas que ficam sempre verdes. Quanto mais escolha tivermos, mais fácil será encontrar um shitakusa para cada momento, seja para uma exposição ou para a simples contemplação pessoal. O bonsai é um momento especial que procuramos durante o dia, seja de manhã ou no final do dia, isolamo-nos fisicamente ou pelo menos psicologicamente, o que é o mais importante para desligar do nosso mundo real e agitado. Assim quanto mais perfeito o ambiente que conseguimos criar à volta do nosso bonsai, maior será a eficiência no nosso dia-a-dia e na nossa mente.
O cultivo da planta de acompanhamento requer alguma atenção especial, como o vaso utilizado é pequeno, obriga-nos a ter mais ciuidado com a rega. Um vaso com cinco centímetros de comprimento não pode reter uma grande quantidade de água, obrigando-nos a vigiar durante o dia se o nosso shitakusa precisa ou não de ser regado.
Esse tipo de planta pode facilmente ficar no exterior, até será mais fácil mantê-lo e assim aproveitar os benefícios da água da chuva. Em contrapartida no verão deveremos colocá-lo num local mais à sombra, pode ser por baixo de um bonsai por exemplo, a pouca quantidade de substrato não pode garantir por muito tempo uma reserva suficiente de água.
Até pode ser bom também efetuar pulverizações diárias sobre as folhas do shitakusa, desde que feitas pela manhã, no fim da tarde as folhas devem ter tempo de secar antes de anoitecer, o shitakusa, como o bonsai, são sensíveis a doenças e fungos, que como sabemos são favorecidos pela humidade nas folhas durante a noite.
Cuidado com o ponto de murcha:
Ler o nosso artigo original sobre como regar o bonsai para percebermos a diferença entre o ponto de murcha e o ponto de murcha permanente que conduz à morte do bonsai ou do shitakusa.
É vital para o shitakusa percebermos o significado e a importância do ponto de murcha, momento onde ainda há tempo de intervirmos para impedir que a planta morra. Regra geral como o shitakusa está junto aos bonsais, é mais fácil controlar o momento certo para regar abundantemente, sobretudo se temos um ligustrum na nossa coleção, é o primeiro bonsai a dar sinal de falta de água e monstrar as pontas a flexionarem. Mas também pode acontecer com o próprio shitakusa, basta ter uma erva mais sensível à escassez de água e vemo-la a flexionar também. Regar de imediato é salvar o nosso shitakusa, se faltar água durante um tempo prolongado, poderá ter morte certa.
O substrato deve ser muito fino, cerca de dois milímetros e com uma boa drenagem, a akadama hard quality shohin com grãos até dois milímetros será uma boa escolha, pode ser misturado com um substrato vegetal muito bem decomposto. A mistura não é obrigatória, a akadama shohin será suficiente desde que seja hard quality. O substrato tem que ser substituido mais regularmente que no caso dos bonsais, a cada ano ou de dois em dois anos, aproveitando para dividir a planta que já deve ter ocupado o vaso todo e assim aumentamos a nossa coleção de shitakusa. A vantagem do shitakusa é que muitas espécies de ervas são facilmente reproduzidas por divisão aquando do aproveitamento na fase do transplante.
Como evidenciamos no nosso artigo original sobre o substrato para o bonsai, temos que ter cuidado com a utilização de substratos muitas vezes vendidos no comercio sem o mínimo de qualidade, se o substrato não estiver devidamente decomposto poderá estar contaminado com a collembola onychiuridae, um inseto de 0.12 a 17 milímetros que pode provocar a criação de microporosidade no substrato e assim afetar o sistema radicular do bonsai ou do shitakusa. A raiz acaba por secar e a nossa pequena planta de acompanhamento também. Esse problema não acontece com akadama hard quality.
Ler o nosso artigo original sobre a collembola.
O substrato akadama que utilizamos para a maioria dos bonsais têm grãos muito grossos para o shitakusa, assim sendo não é recomendado, devemos utilizar a kadama hard quality, a kiryuzuna ou a kanuma, mas na versão shohin, ou seja, com grãos de zero até dois milímetros.
As principais qualidades da akadama ibaraki shohin encontram-se na drenagem e no arejamento, fatores primordiais para a criação de raízes finas e frágeis do shitakusa, na capacidade de retenção da água e dos nutrientes.
Ao regar, um bom substrato deve apenas reter a quantidade de água que o grão pode absorver, deixando evacuar o excedente pelos furos do vaso.
A akadama hard quality shohin é uma argila japonesa de origem vulcânica, composta por grãos reconstituídos e sem nutrientes. Primeiro a argila é esmagada, cozida e após tratamento e secagem, tem uma estrutura homogênea.
As vantagens da akadama shohin são evidentes: drenagem perfeita, mantem a humidade necessária, deixa circular o ar e a água, retém os nutrientes que são elementos fundamentais para o crescimento do shitakusa e do kusamono.
Ler artigo original sobra a akadama para bonsai.
Nalgumas situações podemos ter necessidades de colocar keto no vaso quando houver receio que o substrato como a akadama hard quality shohin não se segura aquando da rega. A keto é um substrato de excelente qualidade, de consistência pastosa, que favorece o crescimento de raízes em situações difíceis como a plantação sobre pedra ou em vaso reduzido e tem a vantagem de reter o substrato.
NOTA:
- É possível utilizar somente a keto, sem nenhum outro substrato, as plantas conseguem viver porque é um produto natural e as raízes agarram-se sem problema.
O kusamono ou o shitakusa deve ser colocado num vaso bastante pequeno, frequentemente esmaltado e raramente retangular, optamos de preferência por um vaso oval ou redondo por serem mais requintados.
O vaso para o shitakusa deve obrigatoriamente ter pelo menos um furo para a evacuação do excesso de água da rega.
Mesmo que sejam permitidas algumas exceções na apresentação tradicional japonesa, o vaso deve permanecer sóbrio e não atrair demasiado atenção. podemos criar um kusamono colocando-o sobre madeira flutuante, sobre um suiban, uma pedra ou uma laje tipo ardósia.
Num passeio na montanha é fácil encontrar pedras com um aspeto original ou muito simplesmente achatada e que permite colocar uma planta pequena ou uma erva em cima dela.
Devemos lembrar-nos que na natureza, estas ervas vivem ao nível do solo. O vaso também não será muito alto, mas mais uma vez, isso dependará da planta escolhida. É recomendado esconder a base da laje ou da pedra com musgo ou líquen para conseguir um aspeto mais natura.
No kusamono ou no shitakusa a discrição do vaso é a regra de ouro no momento da apresentação.
Como já dissemos é imperativo utilizar vasos com furos para evitar a estagnação da água no mesmo, o que poderia provocar o apodrecimento das raízes da planta de acompanhamento. Mesmo que muito reduzido é indispensável o vaso miniatura ter furos para deixar evacuar a água em excesso.
Regar com regularidade e aplicar adubo de forma reduzida para não provocar o crescimento em demasia do shitakusa ou do kusamono. A presença de furos mais pequenos em alguns casos também permite-nos passar um arame de alumínio anodizado para prender a planta ao vaso se necessário, o processo é o mesmo que praticamos no bonsai na altura do transplante. Podemos igualmente colocar redes de plástico nos furos do vaso para evitar que o substrato saia.

A utilização do shitakusa ou planta de acompanhamento tem como principal objetivo realçar a peça mestre, seja um bonsai ou um suiseki e por isso não pode ser confundida com o bonsai, pelo contrário deve apresentar característica opostas para garantir um certo contraste que permita distinguir ainda mais o sujeito principal.
A nossa planta de acompanhamento ou shitakusa deve integrar-se no cenário pretendido, realçando o bonsai sem se assemelhar a ele. Por exemplo não devemos utilizar uma planta de acompanhamento florida com um bonsai com flores, mas sim uma planta verde para contrastar e vice-versa.
Mesmo não tendo medidas definidas, a planta de acompanhamento deverá ter as medidas certas para integrar-se na perfeição no panorama e respetivo cenário.
O equilíbrio é fundamental e é a primeira coisa que o nosso olho irá descobrir.
A planta de acompanhamento ou shitakusa deve fazer lembrar a estação do ano, relativamente à cor das folhas, à presença de flores ou de cogumelos no outono.
No caso de misturar várias plantas de acompanhamento no mesmo vaso, estas devem ter a mesma provenência, ou seja, da mesma região. O toque natural deve aparecer de maneira simples e o mais lógico possível.
IMPORTANTE:
- A parte superior do shitakusa não pode ultrapassar o nível da mesa de apresentação do bonsai.
O shitakusa faz parte integral no mundo do bonsai, é um aliado na apresentação da nossa pequena árvore, pode parecer insignificante, mas é graças a esta pequena planta que o nosso bonsai será destacado e valorizado. As duas peças devem fazer lembrar uma imagem o mais natural possível, são complementares contrastando-se uma com outra.
A observação atenta na natureza ajuda-nos a conseguir o equlíbrio visual, realçando o espírito que tencionamos transmitir ao observador.
O kusamono ou o shitakusa nunca pode ser mais vistosa que o bonsai.
Deve fazer lembrar o local e o ambiente natural do bonsai, por exemplo a montanha ou a planicie.
O vaso da planta de acompanhamento deve ser o mais discreto possível, deve ser muito baixo e quanto menos visível melhor.
Relembramos que não existem regras específicas quanto às medidads para a presentação de plantas de acompanhamento kusamono ou shitakusa, o bom senso e o bom gosto são a base do sucesso.
Ler mais sobre o glossário do bonsai significado.
Léxico.