Mudas de bonsai e prébonsai.
Sabemos que a arte do bonsai é a réplica duma árvore na natureza. Mas como conseguir um bonsai ou um prébonsai a partir do início, sem gastar muito dinheiro na compra de um bonsai já estabelecido e bem estruturado?
Temos várias soluções ao nosso alcance como a sementeira, a estaca, a alporquia e a enxertia, onde cada uma dessas técnicas tem as suas vantagens e desvantagens. Sabemos que a formação do bonsai é baseada na paciência e na perseverança, o tempo é mestre e somente pensando a longo prazo conseguimos um bonsai com a forma e estética pretendidos, modelado ano após ano com as diferentes técnicas que são necessárias para a obtenção de um estilo bem definido, ou seja, a poda, a aramação e os sucessivos transplantes num substrato adequado e de excelente qualidade.
Como conseguir mudas de bonsai?
Para ter sucesso na réplica duma árvore, temos vários meios à nossa disposição. Este é o caso do pré-bonsai, mas também da sementeira, das estacas, da enxertia e da alporquia.
A- O pré-bonsai:
É uma planta que pode ser transformada em bonsai num curto espaço de tempo, normalmente apenas alguns anos são suficientes, dependendo da originalidade da planta. Por vezes encontramos árvores em viveiro que oferecem excelentes oportunidades e com um pouco de tempo e imaginação é fácil transformá-las em bonsai, bastando para isso praticar uma poda adequada e aramar os ramos para determinar a silhueta desejada.
O pré-bonsai é a forma mais rápida de se obter um belo bonsai num curto espaço de tempo. Claro que o yamadori é ainda mais rápido, mas não praticamos essa técnica por razões de conservação da natureza e os cortes nos ramos mais fortes serão sempre visíveis, difíceis de esconder. Não vendemos bonsais provenientes de yamadori, preferimos criar as nossas próprias árvores ou comprá-las em viveiros responsáveis.
O cultivo do pré-bonsai implica pensar no que queremos obter da árvore como um bonsai no futuro. Para além do facto de ser cultivada num vaso de cultivo normal e não num vaso raso, a árvore pré-bonsai pode ser podada e aramada na forma futura que imaginamos.
Ler artigo original sobre o pré-bonsai.
No entanto, relembramos que é essencial realizar transplantes sucessivos a cada dois, três ou quatro anos, dependendo da espécie, cortando a raiz axial e reduzindo as raizes principais para obter um bloco de raizes finas razoáveis e sobretudo o mais próximo possível do nebari.
Chama-se nebari a base do tronco juntamente com as raizes superficiais do bonsai.
Ler artigo original sobre o nebari do bonsai.
No que diz respeito à poda dos ramos, convém esperar até que a árvore tenha atingido um certo tamanho antes de cortar os ramos drasticamente.
Em qualquer caso, todos os novos rebentos devem ser removidos da base do tronco ou do nebari. Durante os primeiros anos, prestamos mais atenção às raízes, reduzindo apenas ligeiramente a massa foliar, sem remover grandes ramos, a menos que sejamos forçados a reduzir o bloco de raízes de forma brutal.
Após três a quatro anos e se a árvore estiver saudável e a crescer de forma normal, podemos então iniciar a poda de estruturação e moldar a nossa árvore num bonsai.
Uma outra situação possível e mais rápida ainda, consiste em plantar árvores diretamente na terra, tendo o cuidado de colocar uma pedra ou uma tábua por baixo da raiz axial para ela não crescer na vertical. Neste caso a árvore crescerá com mais rapidez que num vaso de cultura, seja ele de plástico ou terracotta, só que é mais difícil conseguir um bloco de raízes mais finas junto ao nebari, elas têm muito espaço para se desenvolover e vão procurando cada vez mais longe os nutrientes. Ficando mais grossas à saída da raiz principal.
B- As mudas de sementeira:
Podemos obter bonsais espetaculares a partir de sementes de árvores, mas a sementeira é a parte mais difícil para criar um bonsai.
O problema é que nem todas as árvores podem ser obtidas a partir de sementes, como por exemplo no caso do pinheiro branco japonês ou pinus pentaphylla, será sempre enxertado, já o pinus parviflora que também é um pinus branco japonês de cinco agulhas pode ser obtido por sementeira.
De facto, a sementeira é traiçoeira e por vezes até frustrante, é uma operação que mesmo bem efetuada pode ser um fracasso total, podemos ter uma taxa de sucesso de cem por cento ou muito próximo ou nula quando não germina nenhuma semente, isto é a natureza, por vezes vem das próprias sementes, do clima, de uma insuficiente ou má estratificação, de um fungo no solo, não semear na altura certa ou outro motivo qualquer independente ao nosso controlo.
As sementes devem ter uma origem reconhecida entre os criadores ou colhedores e serem acompanhadas do respetivo passaporte fitossanitário.
O processo de armazenamento é também muito importante, uma vez que a colheita é normalmente feita no final do verão até ao princípio do outono, pelo que as sementes devem ser guardadas num local fresco, como a gaveta dos legumes do frigorífico.
Algumas sementes precisam de estratificação quente ou fria dependendo da espécie, por exemplo o carpinus coreano precisa de estratificação quente a cerca de dezoito graus durante sessenta dias, seguido de estratificação fria a quatro graus durante noventa dias.
O acer buergerianum, por outro lado, necessita apenas de estratificação a frio de três a cinco graus durante três a quatro meses.
Sem a estratificação com o respetivo tempo necessário recomendado será muito difícil, ver mesmo impossível as sementes germinarem. A estratificação é o processo de conservação das sementes num meio ligeiramente húmido e a uma temperatura determinada, ou seja, fria ou quente. Temos que ser muito rigorosos e vigiar com muita frequência as sementes para não germinarem dentro do substrato e retirá-las assim que apareça a nova plântula. Caso contrário e com um substrato seco demais as sementes irão secar.
Portanto é necessário uma observação quase permanente para não perdermos as nossas preciosas sementes de bonsai.
Outras sementes, como por exemplo as de ginkgo biloba, que têm uma casca muito espessa e dura, precisam de ser escarificadas antes da sementeira. A finalidade da escarificação, que pode ser mecânica com uma lixa ou química com ácido sulfúrico, consiste em reduzir a resistência da casca e facilitar a absorção de água pela semente, facilitando a seguir a saída do novo broto.
A desvantagem da sementeira é que não temos a certeza de obter a variedade que semeámos, podemos semear sementes de acer deshojo e obter um acer diferente que nem sequer é vermelho.
Em contrapartida é muito fácil encontrar sementes no chão de muitas espécies interessantes em bonsai, por exemplo nos jardins públicos que podemos visitar no fim do verão ou no outono e aproveitar para apanhar as bagas caídas, antes de serem comidas pelos pássaros.
O liquidâmbar é o mais típico, encontra-se em muitos sítios no nosso país e é relativamente fácil de germinar.
Ler artigo original sobre a sementeira do bonsai.
C- Mudas de estacas:
A estaca é um método frequentemente utilizado para multiplicar plantas e especialmente o bonsai.
Por exemplo, no nosso viveiro na iberbonsai, propagamos os seguintes bonsais por estacas: o ilex aquifolium, o juniperus sabina tamariscifolia, o juniperus chinensis san josé, o juniperus chinensis itoïgawa devido à originalidade da sua folhagem, o juniperus procumbens com a sua folhagem muito densa, a serissa phoetida e variegata, o ulmus seiju com as suas folhas diminutas, os cotoneaster coral beauty, radicans e microphyllus, a camélia raimbow e kimberley, as azáleas, a cuphea com as suas lindíssimas e minúsculas flores brancas ou roxas, a lantana, o taxus baccata ou teixo, o rosmarinus que pode produzir uma raiz extraordinária com o tempo, etc...
Tecnicamente uma estaca é uma parte de uma planta como tronco, ramo, folha ou raiz que é removida de uma planta-mãe e cujo objetivo principal é a obtenção de raízes para criar uma nova planta.
Neste caso, a estaca produz as suas próprias raízes.
Uma vantagem de usar estacas em vez de mudas de sementes é que garantimos que a planta será exatamente igual à planta-mãe, mantendo a mesma composição genética. Isso significa que podemos ter a certeza de que estamos a cultivar a mesma variedade, como no caso do acer deshojo ou de outras espécies. Por outro lado, é mais difícil conseguir um bom nebari porque as raízes não nascem naturalmente como no caso de uma semente e isto irá notar-se sempre.
As estacas mais utilizadas no bonsai são chamadas estacas semilenhosas, ou seja, aquelas com uma parte castanha do ramo, o que significa que começou a sua transformação de madeira verde para madeira madura. Este tipo de estaca é o mais eficiente e é efetuada desde meados de agosto até ao final de setembro.
O segredo para conseguirmos as estacas semilenhosas começa pela seleção dos ramos a cortar, aproveitando uma parte do ramo já amadurecido, tendo a precaução de deixar uma massa foliar reduzida para diminuir a percentagem de evaporação da água da folhagem e por fim, escolher um substrato adequado com uma boa percentagem de areia permitindo à muda ficar presa sem nenhuma brecha de ar, evitando assim a morte por ressecamente. Não basta colocar a muda espetando-a no substrato, é necessário apertar em toda a sua volta com um pauzinho de maneira que ao puxarmos não saia do substrato. Manter um ambiente húmido sem nunca encharcar e guardar longe do sol direteo também faz parte do processo.
Existe outro método de estaca, chamada estaca verde ou herbácea, mas é muito mais complicada e os resultados são muito menos satisfatórios do que a estaca semilenhosa, pelo menos no que diz respeito ao bonsai, sendo esta estaca mais especilamente indicada para plantas de canteiro como gerânio por exemplo ou alguns kusamono.
Ler o nosso artigo original sobre a estaquia do bonsai.
D- Alporquia:
Este processo consiste em provocar a formação de raízes sobre um ramo da planta-mãe a ser multiplicar sem o cortar.
A alporquia utilizada em bonsai é a alporquia aérea ou toriki em japonês:
A alporquia aérea é um método de propagação vegetativa e é geralmente realizada na primavera, quando as plantas começam a crescer. Adquirimos, como no caso das estacas, uma nova planta idêntica à planta-mãe. É uma técnica de propagação de planta praticada acima do solo, executada diretamente sobre um caule lenhificado, ou seja, com a aparência de madeira.
O tempo necessário para criar novas raízes é variável e pode levar de alguns meses a um ano, dependendo da espécie. O desmame, ou por outras palavras, a separação do rebento da árvore-mãe, tem lugar no inverno ou, o mais tardar na primavera seguinte.
A vantagem deste método é que poupa tempo, já que é possível fazer uma alporquia de um ramo de vários centímetros de diâmetro, o que é impossível com estacas, e assim obter uma nova planta que já tem um potencial significativo, o que facilitará a formação de um futuro bonsai.
Frequentemente, aproveitamos para corrigir um erro existente numa árvore sem ser necessário danificá-la, assim podemos fazer dois trabalhos ao mesmo tempo. Primeiro, ajustamos um movimento que ficou feio, e depois conseguimos uma planta parecida com a nossa árvore original. Um exemplo disso é uma árvore de bonsai que achamos muito alta e queremos diminuir. Neste caso a alporquia ajuda-nos a reduzir a altura do nosso bonsai principal e da quebra, criamos uma nova árvore que podemos treinar como um novo bonsai.
A desvantagem deste sistema, como no caso das estacas, é um bonito nebari, que é muito mais difícil de se conseguir porque as raízes não crescem naturalmente como no caso das sementes.
Outro tipo de alporquia é a alporquia enterrada ou mergulhia sashiki em japonês: isto consiste em dobrar um ramo em direção ao solo e enterrá-lo, deixando a extremidade exposta, sem o cortar da planta-mãe.
E- A enxertia:
A enxertia é uma técnica que se baseia na união de tecidos vegetais de dois sujeitos, que podem ser diferentes, mas compatíveis entre si por serem de espécies próximas. É a união de uma parte de uma planta com a de outro sujeito, dando assim origem a uma nova planta que será um individuo único. No bonsai temos como exemplo o acer palmatum deshojo que muitas vezes, é enxertado no acer palmatum atropurpureum, como no caso da estaca temos a certeza de obter um acer de folha vermelha e mais pequena que a do acer que serve de suporte para o enxerto. Como já referimos num artigo anterior, chamamos a atenção na hora de escolher um bonsai que foi enxertado de ter o cuidado com o ponto de enxerto, que deve ser o mais discreto possível, no caso do acer deshojo não se costuma notar muito, mas no pinus pentaphylla é muito recorrente aparecer sujeitos com protuberância inestética.
Ler artigo original sobre a enxertia do bonsai.
Qual a vantagem de fazer as nossas mudas de bonsai?
A primeira vantagem é o preço, falando de uma planta recentemente propagada e ainda jovem, o preço é muito mais reduzido, até pode não custar nada se apanharmos as sementes ou estacas num espaço público, ou podemos fazer alporquia numa árvore do nosso jardim.
A segunda vantagem é que a partir de uma planta que acaba de nascer, é muito mais fácil criar um projeto desdo do início, desenhar e formar ao longo do tempo o bonsai que idealizamos e isto a um preço mais baixo. Não nos podemos esquecer que o bonsai atravessa gerações, então podemos imaginar a alegria de uma família daqui há várias gerações estar em contacto e mais ainda com o cuidado de um bonsai que foi criado desde de uma semente ou de uma estaca. É um sentimento que ultrapassa a nossa imaginação, uma responsabilidade acrescida,um dever e um ritual que devemos calorosamente aos nossos antepassados, por respeito e por paixão ao nosso bonsai.
A terceira vantagem das sementeiras e estacas é muito importante, em comparação com o pré-bonsai ou com o yamadori, o processo é invertido. Ou seja, formamos o nosso bonsai de uma forma crescente e progressiva e não o contrário. Guiámos os ramos, modelamos a estrutura dos galhos, só com uma tesoura ou uma podadora côncava e com arame de alumínio anodizado, que no caso dos yamadori, muitas das vezes são sacrificados com serras de corte ou até com motosserras como já vimos nalgumas demonstrações praticadas por especialistas e até mestres japoneses.
No caso das mudas, praticamos a poda e a modelagem dos ramos de uma forma evolutiva, sem nunca precisarmos de cortar severamente ramos ou raízes, pelo que nenhum corte permanece visível.
Mudas e prébonsai, o segredo.
É um processo muito mais suave e delicado, acompanhamos o crescimento de cada galho e ramo, retirando-o desde o primeiro momento se necessário e aramando-o para obrigá-lo a seguir na direção desejada. Trabalhar o bonsai não deve ser um episódio de tortura, temos muitos clientes a ficarem desapontados com os clubes de bonsai por terem presenciado momentos de decapitação de árvores, é literalmente o termo que corresponde a atuação em atelier, levam uma árvore com muitas folhas e ramos verdes e algumas horas depois ela fica apenas com alguns galhos e quase nada de verde, para quem começa nesta arte é um pouco frustrante e nem sempre a planta sobrevive, podiam pelo menos ter em consideração o lado psicológico da pessoa, explicar mais em pormenor o que vai acontecer durante a intervenção. Não basta pegar numa podadora e cortar até ficar sem quase nada, dizendo que vai brotar novamente, uma pessoa que tem uma árvore consigo há já algum tempo e que trata com carinho, não imagina que essa mesma árvore vai ficar reduzida a um tronco e pouco mais. Um pouco mais de psicologia só faria bem aos artistas de clubes. Há pessoas com sentimentos mais apurados e respeitá-los deveria ser o senso comum.
No caso do pré-bonsai e yamadori, a fim de reduzir o tamanho da planta e adaptá-lo ao estilo do bonsai, teremos que proceder a cortes mais severos dos ramos e raízes, os cortes permanecem sempre visíveis. É um processo mais agressivo para a planta.
Ler artigo original sobre o yamadori.