
O Sobreiro em bonsai ou Quercus Suber.
O género quercus compreende mais de seiscentas espécies de carvalhos reconhecidas. A bolota é a maneira mais simples de identificar um carvalho, se uma árvore produz bolota, é um carvalho. A casca fina e escamosa é outro ponto de identificação do carvalho contrariamente a outras espécies cujo a casca é composta por pedaços mais grosso como no pinus ou pedaços mais largos, compridos e rachados como nas bétulas.
O carvalho sempre ocupou um lugar importante na nossa história e é sagrada em muitas tradições. Reverenciado pelos gregos, era sagrado para os druidas, que se reuniam à sua volta para celebrar rituais e cerimónias. O carvalho simboliza a sabedoria, o conhecimento e a autoridade.
O carvalho é também um símbolo de força invencível, de longevidade e de solidez.
Algumas espécies são de folha perene, outras de folha semi-perene e outras de folha caduca. O carvalho mais conhecido na natureza é, sem dúvida, o Quercus Robur, também chamado de carvalho pedunculado.
Ler mais sobre o género e a nomenclatura botânica.
Existem igualmente muitas azinheiras ou quercus ilex na zona mediterrânica e na costa sul do Atlântico, que prosperam muito bem em Portugal nas zonas mais amenas.
Por fim, encontramos o sobreiro ou quercus suber, também conhecido como chaparro no Alentejo e que é igualmente característico da região mediterrânica, porque teme o frio. A sua casca grossa e fissurada que por vezes pode atingir até vinte centímetros de espessura na natureza, é muito apreciada em bonsai e confere-lhe um estilo muito particular.
Na iberbonsai reproduzimos o quercus suber por sementeira na primavera e temos pré-bonsais e bonsais disponíveis durante todo o ano.
O sobreiro ou quercus suber é originário do mediterrâneo
É uma árvore mítica considerada em muitas regiões da Europa como a mais nobre de todas as espécies vegetais. Foi protegido durante séculos em Portugal pela lei de 1209 que proíbe o abate ilegal. O sobreiro é uma árvore ancestral, predominante no país nomeadamente no litoral alentejano e no Algarve. Hoje em dia a proibição continua ativa. De acordo com a legislação atualmente em vigor, qualquer procedimento de desbate, corte ou arranque e poda de sobreiros e azinheiras que se verifique necessário, deve ser efetuado de acordo com as respetivas indicações legais, nomeadamente através das comunicações prévias e ou autorizações necessárias previstas nos termos do decreto lei nº 169 2001 de 25 de maio, alterado pelo decreto lei nº 155 2004 de 30 de junho, legislação que estabelece as medidas de proteção aos povoamentos de sobreiros e azinheiras.
Fonte noctula.pt
Na natureza o sobreiro pode atingir até vinte metros de altura e viver até quinhentos anos.
Folha simples perene com mais ou menos quatro a cinco centímetros, oval, compacta e dura, verde brilhante na superfície e ligeiramente branqueada na parte inferior, com bordos lisos ou dentados.
É necessário esperar entre doze a quinze anos para que apareçam as primeiras bolotas com dois a três centímetros.
Curiosidade:
- O sobreiro desenvolveu mecanismos de adaptação à secura e ao fogo;
- A maior presença do sobreiro em Portugal é no Ribatejo e Alentejo;
- O sobreiro ocupa 720 mil hectares do território continental e cobre 22,3% da nossa floresta.
Espécie autóctone do sudoeste da bacia mediterrânica, a sua distribuição abrange vários países do sul da Europa e do norte da África, onde ocupa uma área de 2,2 milhões de hectares, metade dos quais no sul da península ibérica.
Trata-se de um carvalho de folha persistente, que nasce e cresce em solos pouco férteis e ácidos, mas não tolera solos calcários, excessivamente argilosos, mal drenados ou com encharcamento prolongado. Não tolera igualmente invernos frios. Através da evolução e da seleção natural, o sobreiro desenvolveu características estruturais e fisiológicas que lhe permitem sobreviver às altas temperaturas e escassez de água típicas do verão no clima mediterrânico:
- Folhas pequenas com cutículas espessas cobertas por ceras e um controlo eficiente das perdas de água por transpiração nos estomas;
- Raízes extensas e profundas, que lhe permitem maximizar a captação de água das diversas fontes disponíveis seja do solo superficial, do solo profundo e dos lençóis freáticos, de modo a manter o conforto hídrico, ou seja, bom estado de hidratação nos períodos secos.
O sobreiro pode viver centenas de anos. Durante todo esse tempo, produz cortiça. No entanto, a sua extração, que é feita em ciclos de nove anos, só comeca a partir do momento em que a árvore atinge um perímetro de setenta centímetros, medido a um metro e trinta do solo, de acordo com a legislação em vigor no diário da república.
Ver decreto lei.
O que corresponde aos cerca de vinte a vinte e cinco anos da árvore. A extração termina aos cento e cinquenta ou duzentos anos da árvore, depois de doze a quatorze extrações.
A cortiça é produzida por um tecido chamado felogénio, que mantém atividade durante a vida da árvore, formando camada sucessivas. Após cada operação de extração ou descortiçamento, o felogénio morre, mas a sua capacidade de regeneração assegura a sustentabilidade da produção e da extração de cortiça.
Fonte: Floresta.pt
A característica principal do sobreiro é a sua casca, ou seja, a cortiça que é cinzento-escuro no tronco, grossa e gretada, porosa e muito leve. A cortiça é utilizada no fabrico de rolhas para garrafas de vinho.
A cortiça ou casca do sobreiro, é um dos mais extraordinários produtos da natureza. Esta matéria-prima única, proveniente de sobreiros existentes na bacia do Mediterrâneo, dá origem à rolha de cortiça, essencial para a qualidade e preservação do vinho. A cortiça e o vinho são inseparáveis por natureza, numa relação sinbiótica que atravessa séculos.
O vínculo entre vinho e cortiça teve a sua génese há milhares de anos e só foi interrompido durante a Idade Média. Investigações arqueológicas comprovam que egípcios, gregos e romanos já usavam vedantes de cortiça, mas foi Dom Pérignon, beneditino francês que viveu no século XVII, que abriu caminho para um império baseado na aliança entre o vidro, da garrafa, e a cortiça da rolha de cortiça. Ao contemplar a natureza à sua volta, Dom Pérignon percebeu que tinha de haver uma solução melhor para vedar o vinho do que as rolhas de madeira utilizadas à época. Eram ineficientes e obsoletas, e duvidosas na preservação do vinho. Por isso, alterou-as substituindo a madeira por cortiça. E pop! Um incrível mundo novo abriu-se diante dos seus olhos.
O vinho é vida, e a cortiça é o vedante que expande essa vida, protegendo-a ao longo do tempo. A relação entre o vinho e a cortiça é uma simbiose perfeita que se tem desenvolvido ao longo dos séculos. O carácter orgânico da cortiça torna-a um vedante incomparável, vital para a evolução dos vinhos e o desenvolvimento das suas qualidades intrínsecas como a preservação dos aromas e sabores, garantido uma experiência autêntica e pura. De cada vez que se abre uma garrafa, cria-se um laço inquebrantável entre vinicultor, vinho e consumidor. De cada vez que uma garrafa é vedada com uma rolha de cortiça, começa uma verdadeira viagem para o vinho.
O impulso de Dom Pérignon foi decisivo. Ele divulgou uma solução extremamente simples e inteligente, que trezentos anos depois se mantém atual. A combinação perfeita: garrafa de vinho e rolha de cortiça, cujo desenvolvimento simultâneo tornou possível a emergência da moderna indúsria do vinho.
Mas o que é que torna as rolhas de cortiça tão especiais?
Porque é que constituem o melhor vedante para o vinho?
A resposta é tão intuitiva quanto comprovada cientificamente. Um olhar mais atento a este cilindro mágico pode ser um bom princípio. Cada rolha de cortiça é uma sofisticada válvula natural formada por oito centos milhões de minúsculas células compostas essencialmente por suberina, preenchidas por um gás semelhante ao ar. Quando comprimidas, estas células comportam-se como uma almofada e procuram constantemente voltar ao seu tamanho e forma originais, adaptando-se ao gargalo e mantendo uma vedação estanque. Este processo é o segredo da excelência da cortiça como vedante.
A união entre o vinho e a cortiça é natural. A rolha de cortiça é responsável por conservar as qualidades do vinho durante décadas, proporcionando uma vedação perfeita que permite uma maturação ideal.
Fonte Amorimcork
A cortiça é uma armadura para o sobreiro, é um isolante e arde só superficialmente, protegendo assim a parte viva da árvore. Depois de um incêndio os brotos adormecidos debaixo da casca vão acordar dando vida a novos ramos.
Levam cerca de quinze a vinte meses a seguir à passagem do incêndio para formar uma nova superfície vegetal viva.
O sobreiro é uma árvore de fácil cultivo em bonsai, mas de difícil aramação nos ramos mais grossos, muito quebradiços e com casca frágil. Por isso e como suporta bem a poda, será este última a principal técnica para formar o bonsai de sobreiro.
Doenças do sobreiro:
- A fitóftora ou phytophthora cinnamomi, é um patogénio muito agressivo do grupo dos oomicetas1 que vive no solo e ataca as raízes das plantas causando podridão radicular. Este microrganismo encontra-se com elevada frequência em montados com sintomas de declínio, sendo considerado um dos principais responsáveis pelo enfraquecimento e morte de várias plantas herbáceas e lenhosas, entre os quais o sobreira e a azinheira.
Fonte iniav.pt
- O plátipo ou Platypus cylindrus, é um inseto de grande preocupação devido à sua abundância e agressividade. Estes características levaram à implementação de um plano de monitorização e controlo a nível nacional. Este inseto, que ataca preferencialmente sobreiro recém-descortiçados ou afetados por incêndios florestais, pode causar a sua morte rapidamente, entre três meses a ano e meio após o ataque inicial.
- O xileboro ou Xyleborus díspar, é um inseto que, tal como o plátido, ataca o tronco na primavera e no outono, preferindo colonizar geralmente árvores debilitadas por outros agentes bióticos ou abióticos, nomeadamente sobreiros afetados por incêndios florestais.
- Os fungos da família Botryosphaeriaceae, são importantes agentes patogénicos do sobreiro e na maior parte dos casos causam sintomas muito semelhantes aos da fitóftora. Para além de deficiências de clorofila que alteram a cor e saúde das folhas, ou seja, cloroses e provocam a seca de ramos, também se observam cancros no tronco e ramos. Em Portugal são encontradas com frequência em zonas de declínio do montado as espécies Diplodia corticola e Diplodia quercivora, sendo a primeira muito agressiva para o sobreiro.
- O fungo que causa o carvão-do-entrecasco ou Biscogniauxia mediterranea tem vindo também a aumentar a sua incidência nos últimos anos, associado ao enfraquecimento das árvores. Coloniza os seus tecidos e causa fendas na cortiça, criando ainda estruturas reprodutoras nos troncos e ramos, cujo aspeto se assemelha a placas de carvão.
- A portésia ou Euproctis chrysorrhoea ou a limântriass ou Lymantria dispar, são dois insetos desfolhadores, que causam a perda de folhas na primavera, prejudicando o crescimento da árvore e podendo afetar a produção de cortiça, embora geralmente as árvores recuperam depressa destas desfolhas.
- A cobrilha da cortiça ou Coroebus undatus, é uma das doenças do sobreiro que não causa a morte das árvores, mas que em caso de ataques intensos afeta a quantidade e qualidade da cortiça.
Fonte: florestas.pt
Embora em bonsai seja mais fácil controlar o meio ambiente e assim evitar muitas destas situações, bastando ter o cuidado de respeitar as condições de cultivo e sobretudo utilizar um substrato original de qualidade como akadama misturada com kanuma ou pomice, regar sempre da parte da manhã e proteger do frio no inverno e do sol intenso no verão.
Como podar o bonsai sobreiro?
Como todos os bonsais temos que proceder a uma poda de estilização para conseguir um exemplar com algum estilo. É a poda de estruturação que consiste em definir as bases gerais do tronco e dos ramos principais que são os elementos decisivos para transmitir a perceção que o autor quer dar ao seu bonsai, ou seja, a força, a elegância, a ligeireza e o movimento. Poda que também pode ser realizada ao mesmo tempo que o transplante e assim aproveitamos para conseguir o equilíbrio entre a parte aérea e a parte radicular.
O objetivo principal da poda de estruturação é a estética do bonsai, provocando uma nova rebentação mais compacta e sobretudo mais perto dos ramos primários de forma a equilibrar a entrada da luz e dar mais vitalidade aos ramos mais baixos e de segundo nível. Estamos assim a melhorar a distribuição de energia no conjunto dos ramos a partir do início da árvore e não no fim, como acontece na natureza por razões de sobrevivência.
A poda regular dos ramos tem como finalidade o aumento do número de brotos e visto as raízes estarem limitadas num espaço reduzido no vaso, o bonsai deve repartir a energia em direção a uma maior quantidade de folhas, que ficam assim cada vez mais pequenas.
É a lei da proporção, quanto mais folhas houver para alimentar, mais pequenas se tornam, é um fenômeno natural, mas que podemos ajudar a provocar.
A poda de estrututação permite retirar os ramos que cresceram em demasia no bonsai e que estão a mais.
Cortamos os ramos pequenos e pequenas ramificações com uma tesoura fina ou grossa. Para podar os ramos maiores, utilizamos uma podadora côncava a fim de obter uma cicatrização o mais discreta possível.
Ler o nosso artigo original sobre a poda de estruturação.
Podemos moldar o bonsai sobreiro em quase todos os estilos, até podemos realizar madeira morta já que a madeira é muito dura e muito densa.
A criação de madeira morta no bonsai tem por objetivo melhorar a estética, tem de ser realizada de maneira ponderada e respeitando o aspeto natural do sobreiro, pois na natureza a madeira morta numa árvore é o relato da vivência e respetivas fatalidades ao longo do tempo devido à seca extrema, vento, gelo, neve ou raios.
É nisso que devemos pensar na realização de madeira morta no nosso bonsai, o resultado final é a representação em miniatura das condições climáticas difíceis que uma árvore pode sofrer nas montanhas ou em penhascos íngremes.
Não esquecer que tanto a formação do bonsai como a realização de madeira morta nunca irão ter um resultado imediato, só o tempo dará conclusões satisfatórias e mais naturais. O vento, o sol, a água são os principais fatores que irão dar o toque natural ao bonsai com o tempo.
Pretender realizar madeira morta digna desse nome em pouco tempo é uma ilusão, o sucesso deste trabalho depende da sua projeção no tempo, não podemos pensar no imediato, mas prever a evolução do nosso trabalho a longo prazo.
Ler artigo original sobre a madeira morta no bonsai.
Como reproduzir o sobreiro?
Multiplicação por sementeira, um kilo contem cerca de cem a duzentas sementes. Semear diretamente na terra na primavera.
A sementeira é a melhor maneira de obter um nebari perfeito, contrariamente ao método de estacas e alporquia.
As sementes devem ser conservadas sempre fechadas, sem apanhar humidade, na gaveta dos vegetais do frigorífico.
A sementeira é a parte mais difícil na obtenção de um bonsai desde o início.
Primeiro, prepara um substrato composto por um terço de areia fina, de preferência lavada e dois terços de substrato à base de folhas, tipo turfa, mas muito fino.
Segundo, encher os recipientes ou vasos, pisar ligeiramente com um pau ou uma tábua e repartir as sementes de sobreiro no substrato.
Cobrir as sementes com o mesmo susbtrato e colocar os recipientes ou vasos a vinte e quatro graus e à luz durante o dia e quatorze graus durante a noite.
Podemos cobrir com um filme plástico transparente para manter a temperatura e hidrometria.
Nunca cobrir uma semente com substrato com mais que uma vez a sua espessura.
Ler artigo original sobre a sementeira do bonsai.
O bonsai sobreiro gosta de um substrato mais ácido, inferior a sete, pode ser envasado numa mistura com akadama hard quality e kanuma, setenta por cento e trinta por cento. Tolera bem a pómice que irá ajudar no arejamento do solo.
É imprescindível que o substrato seja o mais drenante possível, caso contrário as raízes acabarão por apodrecer.
Para garantir uma boa drenagem o substrato deve ser composto de grãos de tamanhos diferentes, de mais ou menos dois milímetros até dez milímetros, porque é no espaço criado entre os grãos que vai circular o ar e a água.
Cada grão de substrato absorve e retém a água com os respetivos elementos nutritivos, assim quanto maiores os espaços, ou seja, grão grosso, maior a quantidade de ar e água que irão circular.
Um bom substrato não deve ser nutritivo, quer isso dizer que não pode conter nutrientes, assim será mais fácil controlar a fertilização.
Por isso lembramos sempre que as vantagens da akadama são evidentes: drenagem perfeita, conserva a humidade, deixa circular o ar e a água, retém os nutrientes que como já vimos são elementos fundamentais para o crescimento do bonsai.
Ler artigo original sobre a akadama para bonsai.
O bonsai sobreiro numa coleção
A principal característica é a sua casca, a cortiça, cinzento-escuro no tronco, grossa e gretada, porosa e muito leve, indispensável numa coleção, pelo menos nas regiões do sul da Europa aguenta bem temperaturas até cinco graus negativos, em locais mais frios convém protegê-lo do gelo durante o inverno.