Jin e Shari em bonsai.
O bonsai não é só uma planta desenhada pela poda e moldagem com arames, mas é sobretudo uma verdadeira e autêntica obra de arte e a prática do jin e do shari no bonsai é a prova mais espectacular que se consegue numa planta natural e em constante desenvolvimento.
O que é o jin e o shari em bonsai?
- Jin é uma parte descacada do galho.
- Shari é uma parte sem casca do tronco.
São técnicas utilizadas para dar impressão de velhice, com a criação de madeira morta, numa árvore que vive nas montanhas com condições extremas, fustigada pelos elementos da Natureza.
Tenta-se criar uma réplica mais próxima de um exemplar natural, maltratado pelo ecosistema ao longo do tempo.
Ler artigo original sobre a madeira morta no bonsai.
O Outono é o melhor momento para trabalhar a madeira morta no bonsai, mas também pode ser realizado do fim da Primavera até ao Verão.
O Jin e o Shari:
Tentamos imitar, com essas técnicas, o que acontece na Natureza. A madeira morta numa árvore é criada pela exposição prolongada de seca, de gelo, de vento forte, do peso da neve e a seguir a madeira morta fica esbranquiçada com o efeito intenso do sol.
Esta situação não pode acontecer naturalmente nos nossos bonsais porque estamos sempre a protegê-los.
Em princípio usamos a técnica do jin shari em árvores perenes, nomeadamente coníferas como o juniperus, é raro encontrar uma árvore de folha caduca apresentando um jin ou um shari, mas é perfeitamente possível, o problema é que nas árvores de folha caduca geralmente a madeira morta apodrece, assim é difícil conseguir um bom resultado no tempo.
NOTA:
Mais de sessenta variedades entre clones e cultivars são referenciadas na espécie juniperus chinensis, cujo o mais conhecido é o juniperus itoïgawa em bonsai.
Itoïgawa é uma cidade no Japão, no norte da ilha de Honshu, na província de Niigata.
Esta variedade encontra-se na Natureza e no estado selvagem só nas encostas dos montes Myôjô e Kurohime a mais de mil metros de altitude.
Os exemplares que podemos encontrar no mercado são originários de produtores que fazem multiplicação de estacas a partir dos restos de poda e é o que fazemos igualmente na iberbonsai.
Ver as nossas mudas de estacas.
A particularidade do juniperus chinensis itoïgawa reside na sua folhagem, muito fina com delicadas escamas. Suporta extraordinariamente bem a poda e pinçagem.
Ler o nosso artigo original sobre o juniperus chinensis itoïgawa.
Na maioria das vezes aproveitamos um erro ou um defeito numa árvore para decidir criar um jin, cortar e descascar uma parte ou mesmo o tronco para conseguir o nosso projecto estético.
O jin é a técnica que consiste em tirar a casca num ramo ou parte de ramo que não seja vital para a árvore, cujo objectivo è aparentar padecer de condições climáticas extremas. Consiste em retirar a casca do ramo até encontrar a madeira dura com um alicate jin, puxando as fibras de madeira e cortá-las no fim do jin. Arredondar as arestas afiadas com uma lixa ou um cinzel côncavo.
O shari é a mesma técnica, mas aplicada ao tronco da árvore, por vezes de forma tão intensa que podemos ver uma parte muito reduzida da casca original alimentar a árvore. Temos de ter o cuidado de garantir que não corta um fluxo importante de seiva para os ramos superiores da árvore e sempre será melhor repartir a tarefa de criação do shari sobre vários meses ou mesmo anos, de modo que o bonsai não entre em stress.
O jin shari deve parecer o mais natural possível. Numa primeira fase, convém marcar o contorno do jin com marcador, a seguir e com ajuda de um x-acto ou outra ferramenta cortante, elaborar um corte seguindo o contorno marcado.
Depois, já podemos começar a retirar a madeira com ajuda de uma tenaz racha-tronco e a seguir, com o alicate jin, continuamos o trabalho nas zonas que queremos cavar com maior profundidade.
O objectivo é moldar e formar a madeira com lixadeira ou qualquer ferramenta rotativa equipada com fresas próprias e polir a madeira morta para limpar as partes onde a casca foi retirada e para que sobressai a aparência lisa do jin.
Deixar secar o jin ou o shari durante pelo menos um mês e a seguir devemos aplicar um líquido a base de enxofre, ácido sulfúrico ou poli sulfureto de cálcio com um pincel ou um pano seco na área trabalhada. Isto deve ser feito de preferência à sombra para evitar que o produto amareleça ao sol.
Cautela:
- Colocar sempre o ácido em cima da água e não o contrário.
- A água absorve e dispersa o calor produzido pela reacção química, coisa que o ácido não faz.
O produto além de proporcionar o branqueamento que faz sobressair a folhagem, tem a particularidade de ser um excelente fungicida e diminue o processo de decomposição natural da madeira.
Qual a ferramenta indispensável para conseguir um jin ou um shari?
- o alicate côncavo:
Para assegurar cortes limpos e precisos que cicatrizem com facilidade graças à suas lâminas côncavas que garantem cortes quase perfeitos.
- o cinzel:
É utilizado para partir a madeira morta em zonas planas, muito útil para dizimar grandes superfícies.
- a podadora racha-tronco:
Ferramenta indispensável para conseguir um jin e para dividir o tronco. As suas arestas afiadas penetram no ramo separando-o longitudinalmente e a seguir podemos rasgá-lo com o alicate jin para dar-lhe um acabamento mais natural.
- as goivas:
As goivas permitem-nos começar a desenhar a madeira morta graças às suas diferentes pontas de formas e tamanhos variados, permitindo-nos realizar texturas distintas, ranhuras e relevos que podem trazer mais relevância na nossa madeira morta.
- o alicate jin:
Ferramenta que produz uma superfície de rasgo natural e mais limpa, utilizada para descascar e rasgar ramos com destino a transformá-los em jin.
- as escovas:
Utilizamos escovas de ferro ou latão para conseguir uma superfície mais suave, mais polida e para remover as aparas de madeira deixadas no jin ou no shari depois da madeira ter sido rasgada para os criar.
A escova de nylon é utilizada para remover o bolor verde e para limpar o pó e a sujidade da madeira morta. É aconselhável aplicar água na madeira antes de escovar.
NOTA:
- O bonsai deverá estar bem preso ao vaso para não provocar a quebra das raízes mais finas pelo movimento e pelo impacto das ferramentas.
DICA:
- Para realizar um jin ou um shari podemos utilizar ferramentas eléctricas tipo berbequim com um eixo flexível e ferramenta para escavar a madeira. Desta forma conseguimos um resultado mais rápido e bonito no acabamento, só que com esta técnica parece-se mais com um entalhe e pior, não se respeita o veio da madeira.
- O trabalho, quanto feito à mão, é muito mais lento, com ajuda de goivas e cinzéis, alicates e pincéis como já vimos, mas continua a ser a melhor técnica porque revela a delicadeza do trabalho e assim é mais realista.
Ver a nossa ferramenta para trabalhar a madeira no bonsai
Por que um jin ou um shari sobre o bonsai?
Certo que não é obrigatório realizar um jin ou shari sobre o bonsai para conseguir um espécimen de grande distinção, mas quando conseguimos um é notório o efeito deslumbrante que pode provocar.
Em coníferas como o juniperus, consegue-se uma extraordinária obra de arte e escultura viva graças ao contraste da folhagem com a madeira tratada.